quarta-feira, 30 de junho de 2010

Serra rifa Álvaro Dias e DEM indica um ficha suja para vice



Parece que a novela do vice de José Serra chegou ao seu capítulo final nesta quarta-feira (30). O candidato tucano à Presidência decidiu rifar o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) e teve de engolir a exigência dos “democratas”, que indicaram o deputado Índio da Costa (DEM-RJ) para a vaga.

Serra queria evitar tal desfecho, já que o DEM (ex-PFL) ficou mal afamado após os escândalos do ex-governador Arruda, do Distrito Federal, filiado à legenda. O candidato a vice se apresenta como o relator do projeto da ficha limpa, mas também possui um currículo pouco recomendável.

Genro de Cacciola

O parlamentar carioca é casado com Rafaela Cacciola, filha do banqueiro ítalo-brasileiro Salvatore Cacciola, proprietário do falido Banco Marka, que se meteu numa operação criminosa durante a crise cambial de 1999 (quando o real foi desvalorizado), foi condenado, fugiu para a Itália e hoje está encarcerado. O sogro cumpre pena por corrupção.

Costa também é empresário, sócio cotista da Baqueta Participações LTDA, ligada à 3X, empresa de licenciamento de produtos. Antes de se eleger deputado, foi vereador e administrador regional do bairro de Copacabana e do parque do Flamengo. É indicação pessoal do ex-prefeito do Rio e cacique do DEM, César Maia, com quem mantém algumas relações perigosas.

Ligações perigosas

Maia e Costa são suspeitos de envolvimento no episódio de licitação viciada para fornecimento de merenda escolar na capital carioca em 2005. O fato ocorreu quando o genro de Cacciola era secretário Municipal de Administração e responsável pela licitação. O prefeito era César Maia.

Segundo apurou o relatório da CPI criada pela Câmara Municipal para investigar a concoorência, que agora é objeto de inquérito policial na Delegacia Fazendária, o esquema de fraude na licitação se procedeu da seguinte forma:

O edital da licitação tinha entre as regras atrair um número expressivo de participantes. Duas empresas, Milano e Ermar, agiram em jogo combinado para vencer. A Ermar apresentou recursos de impugnação contra todos os concorrentes, exceto contra a Milano, deixando caminho livre.

Com isso, as regras do edital não foram atendidas. O secretário (nosso personagem Índio da Costa) tinha a obrigação de cancelar o processo e providenciar outra licitação. Mas ele fez o contrário, e a Milano acabou vencendo a licitação e ficando com 99% do fornecimento de gêneros alimentícios para a merenda.

Prejuízo milionário

Índio da Costa ainda levantou mais suspeitas ao insistir na contratação centralizada de fornecimento de merenda escolar quando, desde 2001, estudo da Controladoria Geral do Município CGM) recomendava a descentralização do sistema.

Os cofres públicos municipais sofreram uma sangria de R$ 11 milhões quando houve a nova licitação, estendendo a participação a nove empresas fornecedoras de gêneros alimentícios.

Cabeça vazia e bolsos cheios

O ex-secretário nacional de Segurança Luiz Eduardo Soares traçou um breve e sugestivo perfil de Índio da Costa em seu twitter: “Jovem, bonitão, do Rio, rico, ligado a obras,empreiteiras e caixa de campanha, sem nada na cabeça ou nas mãos, mas muito nos bolsos: eis o vice!”

A indicação do vice não pacificou as fileiras da candidatura tucana. Descartado, o senador Álvaro Dias disse que se sentiu usado. Seu irmão, Osmar Dias, também senador (PDT-PN), frustrou o plano dos tucanos ao sair candidato a governador do Paraná em coligação com o PT e garantir um bom palanque para Dilma Rousseff no Estado.

A novela ajudou a evidenciar a precariedade das alianças costuradas por Serra. O martelo sobre o vice foi batido na casa do ex-governador, onde ele se reuniu com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o presidente dos “democratas”, Rodrigo Maia. A candidatura de Índio da Costa deve ser anunciada no final da Convenção do DEM, que está sendo realizada nesta quarta (30) em Brasília.

Fonte: Da redação Vermelho, Umberto Martins e Gustavo Álvares

Quem é o vice de Serra???



Do Tijolaço

O Blog do Noblat acaba de anunciar que o vice do Serra será o deputado Índio da Costa, do DEM. Apresenta-o como o relator do ficha-limpa. Mas não é bem assim. Ele foi um dos alvos da CPI na Câmara dos Vereadores que investigou superfaturamento e má-qualidade nos alimentos comprados para a merenda escolar, quando eu ainda era vereador. A CPI foi pedida pelo meu amigo e deputado Edson santos (PT) e relatada pela – atenção – vereadora tucana Andrea Gouvêa Vieira. Vou transcrever o texto que está numa das páginas dela na internet, de onde tirei também a ilustração:

O relatório de Andrea concluiu que a licitação para a compra de gêneros alimentícios para a merenda, entre julho de 2005 e junho de 2006, realizada pela Secretaria Municipal de Administração e pela Secretaria Municipal de Educação, no valor de R$ 75.204.984,02, causaram prejuízo aos cofres públicos. 99% do fornecimento ficaram concentrados numa única empresa, a Comercial Milano, que apresentou uma engenhosa combinação de preços em suas propostas. A licitação ocorreu num único dia, mas foi dividida 10 coordenadorias de educação (CREs). O “curioso” foi que esta empresa ofertou preços diferentes para o mesmo alimento. O preço do frango da proposta da Milano, por exemplo, para Santa Cruz, era cerca de 30 % mais caro do que o preço ofertado para Campo Grande. Detalhe: em Santa Cruz a Milano não teve concorrentes e em Campo Grande sim. Como ela soube da falta de concorrentes, um mistério. E a Prefeitura aceitou isso! Pagou à mesma empresa, pela mesma mercadoria, preços muito diferentes. Essa foi a característica geral dessa licitação: uma combinação de preços que otimizaram os ganhos de uma única empresa fornecedora em prejuízo dos cofres públicos.

Na primeira parte do relatório, a CPI concluiu que o então Secretário de Administração, Índio da Costa, deveria ter cancelado a licitação porque as regras do edital levaram a um resultado que contrariou o objetivo inicial de atrair dezenas de pequenos comerciantes locais a vender para as escolas dos bairros, descentralizando o fornecimento, e pelo melhor preço. Ao contrário, a licitação acabou por provocar a maior concentração de entrega de gêneros alimentícios na história da merenda escolar.

Como evidência incontestável do prejuízo aos cofres públicos, o relatório revelou que o pregão presencial adotado depois da instalação da CPI pelo
sucessor do Secretário Índio, um ano depois, possibilitou uma economia de cerca de R$ 11 milhões na compra da mesma merenda escolar.

Durante o processo licitatório, segundo o relatório da CPI, foram identificadas diversas irregularidades no registro das atas das reuniões de entrega, abertura e verificação de documentos. Chamou a atenção o fato de a empresa Milano ter sido a única a ter acesso aos documentos das empresas concorrentes ainda durante o período em que a Comissão de Licitação analisava a documentação dia 23 de março de 2005, enquanto os pedidos de vista das demais só ocorreram após o dia 31 do mesmo mês, quando já havia sido anunciado o julgamento dos documentos.

Uma das empresas eliminadas – a única que conseguiu na Justiça liminar para que a Secretaria de Administração não destruísse sua proposta de preços – mostrou, quase um ano depois, quando a Justiça obrigou a abertura do envelope, que se não tivesse sido desabilitada, teria vencido a Milano em vários quesitos, com condições mais vantajosas para o Município.

A Prefeitura não conseguiu demonstrar, de forma objetiva, como a empresa Milano conseguiu um resultado tão favorável. A única explicação dada pelo
então Secretário de Administração, Índio da Costa, e pelos diretores da Milano, de que o acerto se deu em virtude do estudo das concorrências anteriores, levou a CPI a duas conclusões:

1- Se era possível antecipar resultados, houve falha nas regras do edital.

2- Se a Administração municipal aceitou pagar, pelo mesmo produto, preços significativamente diferenciados, sem que houvesse uma explicação objetiva para esse fato – custo de logística, por exemplo – não cumpriu um dos preceitos da licitação que é comprar pelo menor preço.

As duas conclusões deveriam ter levado a Secretaria de Administração a, obrigatoriamente, cancelar a licitação.

Na segunda parte do relatório apresentado pela vereadora Andrea Gouvêa Vieira, a CPI concluiu que houve omissão, negligência e despreparo na fiscalização do contrato assinado com a empresa Milano, que reiteradamente entregou, durante todo o ano, carne bovina e frango fora das condições exigidas, trazendo complicações ao funcionamento já precário de muitas escolas, dificultando o preparo das refeições, e, em muitas ocasiões reduzindo a quantidade de alimento, principalmente carne e frango, no prato das crianças.

Depoimentos de merendeiras e o relatório das visitas às escolas feito pelo Conselho de Alimentação Escolar (CAE), enviado à CPI, comprovaram a omissão da Secretaria de Educação que, apesar da continuada e permanente reclamação das escolas, não se posicionou de forma adequada para exigir o cumprimento do contrato.

Ao contrário, disse a CPI, o total de multas, de R$ 8.330,28, ao longo do ano, num contrato de R$ 75 milhões, claramente induziu a empresa Milano a insistir na entrega do alimento fora dos padrões contratuais, diante de tão pequena penalização.

Documento em poder da CPI revelou que auditoria da Controladoria Geral do Município responsabilizou a Secretaria de Educação pela fragilidade no acompanhamento da execução do contrato, vindo ao encontro das conclusões da CPI.

O documento propôs as devidas ações para responsabilização civil e criminal dos infratores, em especial dos dois secretários – de Administração e de Educação, principais responsáveis, no mínimo, pela relapsia no trato da coisa e do dinheiro públicos. O primeiro, Índio da Costa, ao homologar uma licitação cujo resultado era evidentemente contrário ao interesse da administração; e a segunda, Sonia Mograbi, ao negligenciar por completo a fiscalização da execução do contrato. “Em ambos os casos, é de ser aferida tanto a responsabilidade pessoal dos secretários quanto a dos agentes a eles subordinados, quer na condução da licitação, que levou à elaboração do contrato, no caso da SMA, quer na fiscalização e acompanhamento da sua execução, no caso da SME”.

Além do Ministério Público Estadual, a CPI encaminhou o relatório ao Ministério Público Federal, uma vez que parte dos recursos da merenda escolar são repasses de verba do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Também foram encaminhadas cópias do relatório à Delegacia de Polícia Fazendária, ao Tribunal de Contas do Município e à Prefeitura do Rio.

Há muito mais material sobre o tema na página da vereadora, repito, do PSDB, e nos jornais cariocas. Quem quiser – imagino que a imprensa queira – procurar, vai achar muito…

Fonte: Blog do Brizola Neto

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ciro reaparece no Ceará e pede votos para Dilma

O deputado federal Ciro Gomes (PSB) fez neste domingo (27), em Fortaleza, seus primeiros pronunciamentos públicos desde que teve rifada a sua candidatura à Presidência da República. Em duas oportunidades diferentes, ele pediu votos para a candidata Dilma Rousseff (PT).

A primeira delas aconteceu na convenção do PDT cearense, onde a ex-mulher dele, a senadora Patrícia Saboya, teve a candidatura a deputada estadual oficializada. Ao falar sobre o Brasil que, segundo ele, "está no rumo certo", Ciro referiu-se à Dilma como "nossa candidata".

Depois, na convenção do PSB cearense, onde o irmão dele, o governador do Ceará, Cid Gomes, deu o pontapé inicial na disputa pela reeleição, Ciro encerrou seu discurso pedindo votos para Dilma e para os candidatos ao Senado, Eunício Oliveira e José Pimentel.

Na convenção de Cid, realizada no ginásio de um colégio no centro de Fortaleza, Ciro começou o discurso lembrando o sonho de ser presidente do Brasil.

Sonho para o qual eu tenho procurado me preparar. Mas a vida pública, especialmente para quem não faz dela meio de vida, não é um lugar para a gente fazer o que a gente tem vontade, nem mesmo o que a gente sonha. A vida pública é para a gente fazer o que for necessário pelo país, pela sua comunidade, pelo seu Estado.

Em seguida, falou sobre os dias longe do Brasil. Ciro viajou para os Estados Unidos logo depois de ter a candidatura negada pelo PSB.

- Passei uns dias, lambendo as feridas, triste, pensando que a vida era ingrata. Mais ou menos uns três dias. No segundo dia, eu estava ali com meu filho Ciro, viajando e eu graças a Deus tive uma intuição que... tudo bem. Eu queria muito ser, mas não vou poder ser.

Mais adiante, afirmou que na política ninguém pode se permitir a ser "o dono da verdade", sob o risco de "ficar falando sozinho", e afirmou que a decisão de não levar a candidatura dele adiante foi feita por quem queria o melhor para o Brasil e para o povo.

- Aqueles que decidiram, decidiram pensando no melhor para o país. Decidiram pensando no que era melhor para o nosso povo brasileiro. Então, por mais que eu ache que pudesse estar errado, por mais que eu achasse que eu podia ser melhor, a gente não pode querer na política especialmente, mas na vida também, não pode querer ser dono da verdade. E quem na política se arvora de dono da verdade, às vezes, fica falando sozinho contra a imensa maioria da inteligência das pessoas.

Tasso Jereissati

No restante do discurso, Ciro se ocupou em elogiar a aliança com 16 partidos construída pelo irmão para se reeleger governador. Ciro enalteceu o jeito "manso" e "delicado" de diálogo que, segundo ele, Cid tem.

Aproveitou ainda para lançar uma indireta ao senador Tasso Jereissati (PSDB), que decidiu romper com família Ferreira Gomes e lançar Marcos Cals na disputa ao governo estadual.

- Fiquem sossegados os cearenses porque desta vez eu não vou importunar os eleitores do Ceará. O que me dá de novo essa leveza e essa alegria com a qual eu chego na convenção dessa generosa coligação, que só o jeito manso, delicado de diálogo, de paz política, que o Cid tem, é capaz de construir. E só não participa dela quem não quer.

Na convenção do PDT, Ciro atacou a prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), dizendo ser preciso um movimento para "banir a mentira".

No Ceará, Luizianne é aliada política do governador Cid Gomes, mas inimiga política da ex-mulher de Ciro, Patrícia Saboya. As duas viraram adversárias na última disputa pela prefeitura da capital cearense.

Fonte: R7

Marcos Coimbra e os novos números do Ibope: está chegando a hora

Para Onde Apontam os Números

Por Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, no Correio Braziliense.

Saiu uma nova pesquisa nacional do Ibope, que confirma as que foram feitas recentemente pela Vox Populi e a Sensus. Os dois institutos já antecipavam o que agora indica o Ibope, talvez por utilizarem amostras mais sensíveis.

Nessa pesquisa, a vantagem de Dilma sobre Serra, ela com 40% das intenções de voto, ele com 35%, é ainda pequena, perto da margem de erro de 2 pontos percentuais, se raciocinarmos com o pior cenário para a candidata do PT (no qual ela teria 38%) e o melhor para o do PSDB (em que ele ficaria com 37%). Como essa conjugação é pouco provável, o mais certo é afirmar que ela assume a dianteira, mas sem se distanciar do adversário.

Se fosse só isso, caberia apenas dizer que a pesquisa é boa para Dilma. Na verdade, porém, ela é melhor do que parece à primeira vista, o que permite dizer que é muito favorável à petista.

De um lado, ela mostra que Dilma continua a crescer tirando votos de Serra, em um processo análogo ao que a matemática chama “jogo de soma-zero”. Nele, o ganho de um é idêntico ao prejuízo do outro, o que produz um saldo sempre nulo: mais 5 menos 5 igual a zero.

Na política, isso acontece quando só existem dois candidatos de direito (por exemplo, no segundo turno) ou de fato (como está ocorrendo agora, quando perto de 80% dos eleitores ficam entre Dilma e Serra). Somente 20% ainda não sabem o que farão ou pensam fazer diferente: votar em outros nomes, anular ou deixar em branco.

Como quase não há alterações nos nulos e brancos, e Marina não se mexe, permanecendo estacionada nas pesquisas de todos os institutos há algum tempo, as únicas mudanças se dão entre as pessoas que saem de Serra e vão para Dilma (ou vice-versa, mas em proporção muito menor). Quanto à pequena indecisão residual no voto estimulado, ela decorre da dificuldade que as campanhas têm de atingir algumas faixas do eleitorado refratárias à comunicação política, formadas por eleitores que podem, em muitos casos, continuar tão indecisos até o final que sequer comparecerão para votar.

Para Dilma, o bom, nesse processo, é que, a cada deslocamento de eleitores de Serra para ela, os números dobram. Por exemplo: se Serra perder outros 3 pontos e ela os receber, a distância entre os dois subirá 6 pontos.

Se, então, estiver em curso (como parece) essa tendência, a perspectiva de vitória da candidata do PT no primeiro turno se torna concreta, mesmo imaginando que Marina não míngue e até cresça um pouco. Quanto aos nanicos, alguns respeitáveis, tudo indica que a possibilidade de crescimento é remota.

A segunda razão da nova pesquisa do Ibope ser tão favorável a Dilma é o período de realização. Seu campo foi iniciado no dia seguinte à veiculação do programa do PSDB em rede nacional e prosseguiu enquanto estavam no ar suas inserções, logo após a propaganda do DEM e do PPS, igualmente dedicadas a Serra. O fato de toda essa mídia não ter conseguido, ao que parece, provocar o aumento de suas intenções de voto era previsível, mas veio como ducha de água fria naqueles que torciam para que melhorassem.

Não havia, no entanto, maiores motivos para imaginar que Serra iria crescer. Como acontecera no final de 2009 em situação semelhante (quando ele coestrelou, com Aécio, a propaganda tucana sem subir), voltamos a ver que seu nível de conhecimento é tão elevado que ele não ganha quando seu tempo de televisão aumenta. Em linguagem publicitária: sua imagem parece ter atingido o ponto de saturação, a partir do qual novos investimentos em propaganda apresentam retorno decrescente ou, quem sabe, negativo (quando há risco de perda de imagem com mais exposição).

Na interpretação amiga de quem deseja que ele vença, houve quem dissesse que foi a Copa do Mundo que o prejudicou, como se o interesse por ela fizesse com que a opinião pública ficasse indiferente à comunicação política enquanto a bola rola. A tese seria admissível se não fosse contrariada por tudo que conhecemos de eleições passadas, como a de 2002, quando Ciro Gomes cresceu mais de 15 pontos em plena Copa, impulsionado pela propaganda partidária que, desta feita, não ajudou Serra.

Com a perspectiva de encerramento da fase de pré-campanha com Dilma em clara dianteira, a eleição pode se encaminhar para uma definição antecipada: talvez comecemos a etapa final, da propaganda na televisão e no rádio, com a eleição resolvida na cabeça da maioria dos eleitores. Para que isso se confirme, falta pouco.

sábado, 26 de junho de 2010

Álvaro Dias afirma que está mantido como vice de Serra, apesar da resistência do DEM

Da Folha on-line

BRENO COSTA
DE SÃO PAULO

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), anunciado ontem como vice na chapa de José Serra à Presidência da República, afirma que seu nome está mantido, apesar da resistência do DEM, que deflagrou uma crise na campanha do tucano, ontem.

"Acho que isso é próprio do calor da disputa eleitoral", afirmou o senador, por telefone.

Dias, que está em Cuiabá (MT) desde ontem, voltou a dizer que, "na hipótese de o DEM abandonar a coligação, eu retiro meu nome". O senador, no entanto, afirma que a hipótese não se concretizará.

"Tenho certeza que vai prevalecer o projeto nacional", disse Álvaro Dias, sem, no entanto, explicar como haverá um convencimento do DEM em relação ao seu nome. "Isso está sendo trabalhado pelo [senador] Sérgio Guerra".

Pela manhã, ele conversou por telefone com Guerra (PE), presidente do PSDB e coordenador da campanha de Serra. Dias afirma que ainda não há reunião marcada entre os líderes do partido para discutir a crise deflagrada ontem, a partir de declarações duras de dirigentes e líderes do Democratas.

Álvaro Dias eximiu de responsabilidade o ex-deputado federal Roberto Jefferson, presidente do PTB, que anunciou via Twitter, durante o jogo da seleção brasileira, que o senador seria o vice de José Serra. Àquela altura, Sérgio Guerra ainda não havia apresentado formalmente o nome de Dias ao comando do DEM.

"Não dá para culpar o Roberto. Isso [a crise] foi motivado pela defesa de uma tese, que é a participação do DEM na chapa, o que eu acho legítimo", afirmou.

A sina óbvia da tropa de choque



Por Luis Nassif

A maneira como aliados de Serra – Folha e Estadão – reagiram à candidatura Álvaro Dias, estampando notícias negativas sobre ele, confirma uma máxima: ninguém quer se envolver com barras-pesadas, tropas de choque.

Em momentos de catarse, eles têm sua utilidade: Jungman, Itagiba, Virgilio e, mais do que todos, Álvaro Dias, receberam espaço amplo, como meros instrumentos propagadores de dossiês.

Passada a catarse, aliados, mídia se afastam como que temendo a contaminação, como se eles não devessem passar da porta da cozinha. É como se dissessem: pertencemos a classes sociais diferentes, a papéis políticos diferentes, não me comprometa, já dei o que você queria - visibilidade -, você me deu a contrapartida - escândalos -, agora, cada qual na sua.

O curioso nessa história é que José Serra parece ter uma compulsão de se cercar apenas de barras pesadas: do Secretário de Comunicação Bruno Caetano ao Álvaro Dias, a blogueiros desqualificados. Tenho amigos que pertencem ao staff próximo de Serra, pessoas com imaginação, fôlego político, que nos últimos anos se transformaram em xiitas, agressivos, com um discurso repetitivo, emulando o chefe.

Pena, pois alguns deles poderiam ter prestado bons serviços políticos ao país, não tivessem sido picados pela mosca azul do jornalismo de esgoto e pelo espírito destrutivo do chefe. Obviamente, não Sérgio Guerra que nada tinha a perder, nem Arthur Virgílio e Álvaro Dias. Mas Roberto Freire, que tinha história, Vellozo Lucas, grande quadro, Márcio Fortes, que teve papel relevante no BNDES, e que poderiam cumprir funções construtivas, quando submetidos a uma orientação política civilizada.

Mas ficarão marcados por terem apostado tudo em uma aventura inconsequente.

Passada a hora do pesadelo, tomara que as novas lideranças da oposição tenham discernimento para resgatar grandes quadros que, momentaneamente, perderam o rumo.

É interessante o trajeto de Jutahy Magalhães Jr. Nos tempos de ACM sempre foi um parlamentar combativo, corajoso, enfrentando o coronelato baiano. Era o deputado mais ligado a Serra. Não parece ter perdido nem a coragem, nem a lealdade. Mas não me lembro de tê-lo visto envolvido no festival de baixarias dos últimos anos.

Vice faz campanha de Serra desandar



Do Balaio do Kotscho



Os tucanos tiveram mais de seis meses para achar um vice na chapa de José Serra. Desde que Aécio Neves jogou o boné e tirou o time da disputa presidencial, no final do ano passado, e descartou qualquer possibilidade de ser o vice de Serra, esta novela frequentou o noticiário político.

Dezenas de nomes foram cogitados, até o de uma vereadora que é presidente do Flamengo, mas o candidato não se fixou em nenhum deles, deixando a decisão para a última hora.

A quatro dias do prazo fatal para indicar o nome do vice, o país ficou sabendo da indicação do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) pelo Twitter do aliado petebista Roberto Jefferson, bem na hora do jogo do Brasil contra Portugal. Nem os roteiristas do “Zorra Total” ou do Renato Aragão, nem mesmo os marqueteiros dos adversários seriam capazes de montar tamanha sequência de trapalhadas.

A escolha do nome de Álvaro Dias se deu por eliminação, na noite de quinta-feira, numa reunião de José Serra com Sergio Guerra e Jutahy Magalhães, fiéis escudeiros do candidato. Consultados, os aliados PPS e PTB logo aprovaram a indicação, mas se esqueceram de combinar com o DEM, o principal partido da coligação, que só ficou sabendo da novidade pelo Twitter de Jefferson. Seus principais líderes botaram a boca no mundo e, a partir daí, a coisa desandou de vez.

Dava um filme, uma comédia de pastelão político. A seleção brasileira já estava em campo, quando Jefferson parou sua moto para abastecer no interior de Minas, a caminho de Tiradentes, onde iria participar de um encontro de motoqueiros, quando foi informado pelo celular por Guerra, e imediatamente jogou a notícia no ar.

Em Bragança Paulista, onde assistiria ao jogo do Brasil ao lado de Alckmin e Quércia, a cadeira reservada para Serra ficou vazia até os 12 minutos do segundo tempo, quando o candidato apareceu. Ao final, fez comentários sobre o jogo, mas nada falou sobre a escolha do vice. Jogou o abacaxi para Sergio Guerra.

Depois do jogo, cada um foi para um lado. Serra seguiu de helicóptero para Campinas e, de lá, voou para Parintins, nos confins da Amazonia. Sergio Guerra foi ao Rio para pegar Rodrigo Maia, o indignado presidente do PFL, e seguir com ele para Sergipe, onde iriam tentar resolver mais um problema de palanque estadual. No caminho, procurariam acertar os ponteiros. Pelo jeito, não acertaram.

O indicado Álvaro Dias voou para Cuiabá, onde participaria de uma convenção do PSDB. Ao ser informado sobre o imbroglio com o principal aliado, foi logo avisando: “Se o DEM tiver que sair, antes saio eu”.

No final da noite, sem conseguir acalmar os demos, que só aceitavam Aécio Neves numa chapa puro-sangue, colaboradores de Serra já admitiam a hipótese de um recuo, segundo o noticiário da Folha. Na coluna Painel, a novela virou motivo de chacota: Álvaro já estaria sendo chamado de “vice Porcina”, o que foi sem nunca ter sido.

O estrago causado na campanha de Serra pela escolha de Álvaro Dias e a forma como seu nome foi anunciado na hora do jogo do Brasil, sem que o DEM fosse consultado, ainda levará alguns dias para ser avaliado, mas uma coisa já é certa: a aliança, que já não ia bem das pernas, foi seriamente abalada.

Por que a escolha recaiu exatamente sobre Álvaro Dias, que colocou ele mesmo seu nome na mesa das discussões, quando a questão do vice já caminhava para um impasse?

A razão apresentada pelos tucanos não poderia ser mais frágil e singela: o objetivo principal seria atrair seu irmão, o senador Osmar Dias (PDT-PR), que há semanas balança entre ser candidato à reeleição em aliança com o PSDB ou se candidatar a governsador com o apoio do PT e do PMDB. Estariam em jogo dois milhões de votos.

Na escolha do vice, sempre pesam três fatores: buscar um nome em região onde o candidato a presidente está mais fraco, atender a um partido aliado e somar mais votos para a chapa. No caso de Dias, nenhum dos três foi atendido, já que se partiu para uma chapa puro-sangue, com algúem de uma região (Sul) onde Serra já lidera as pesquisas e de um Estado (Paraná) com colégio eleitoral limitado.

Na nota de apenas três linhas em que oficializou o nome de Álvaro Dias, já no final do dia, em Sergipe, Sergio Guerra o apresentou como “um senador de grande coerência e capacidade”. Já em Partintins, José Serra nada disse: “Estou fora do ar desde que embarquei”.

Antes disso, porém, o noticiário da internet já tinha dado a ficha de Álvaro Dias: expulso do PSDB em 2001, por defender a criação de uma CPI para investigar denúncias de corrupção no governo FHC, no ano seguinte ele foi candidato a governador do Paraná pelo PDT e apoiou Lula no segundo turno.

Em 2003, no começo do governo Lula, reivindicou uma embaixada na Europa e, como não foi atendido, tornou-se um dos mais ferozes opositores no Senado, com grande visibilidade no “Jornal Nacional”, onde aparece quase todo dia com sua voz de locutor de FM. Mas, se este fosse um critério, o da visibilidade na TV, a chapa William Bonner-Fátima Bernardes seria imbatível…

Assim como Dilma Roussef teve problemas na largada da campanha, apontados aqui no Balaio, José Serra chega ao meio da corrida eleitoral em seu pior momento: em queda nas pesquisas (o último Ibope deu 40 a 35 para Dilma, com a rejeição já tendo batido nos 30%), os palanques estaduais ruindo e, agora, com a trapalhada da escolha do vice ameaçando a unidade da coligação que o apóia.

Pior do que tudo isso, foi a baixaria da vereadora tucana Mara Gabrilli, que perguntou esta semana em seu Twitter: “Você confiaria seus filhos para Dilma de babá”? Se estas forem as novas armas empregadas na campanha eleitoral para desqualificar a candidata de Lula, é sinal de que já bateu o desespero no QG tucano.

Esta tática de amedrontar os eleitores, tentando fazer de Dilma uma bruxa malvada, tem tudo para dar errado, como já vimos com Regina Duarte na campanha de 2002.

Na mesma hora em que tucanos e demos se estranhavam sobre a indicação do vice, na tarde de sexta-feira, Dilma Rousseff era recebida na casa do megaempresário Abílio Diniz para um encontro com 38 mulheres representantes da chamada “elite branca” de Cláudio Lembo. Ninguém saiu de lá assustado. Ao contrário: “Foi um espetáculo”, limitaram-se a dizer duas loiras de meia-idade que saíam apressadas em seus carros, segundo a Folha.

Ainda faltam três meses para os brasileiros irem às urnas. Claro que o candidato da oposição ainda pode reverter o quadro que, no momento, lhe é bastante desfavorável. A campanha na televisão ainda nem começou. Resta saber o que José Serra terá a apresentar como novidade, além de Àlvaro Dias, tendo no outro programa Lula ao lado de Dilma.

Não é preciso combater a sombra


Que alívio, o exército persa, perdão, a mídia nativa insiste em atirar fora do alvo

Pergunto aos meus aloprados botões por que o candidato tucano José Serra não sobe nas pesquisas a despeito de todos os esforços despendidos a seu favor pela mídia nativa e pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No caso de FHC, refiro-me às informações de fonte respeitável, segundo as quais o príncipe dos sociólogos confessa ao pé de ouvidos tucanos o fracasso do seu empenho, maciço e infatigável, em prol do amigo de sempre. Amigo? Quanto à mídia, de que lado fica está na cara. E com que denodo, com que paixão.

Saiu na quarta-feira 23 a pesquisa CNI-Ibope e os números mostram que quem cresce é Dilma Rousseff. Acima do chamado empate técnico. Tivessem braços, os botões os abririam a 180 graus. Até tocar o firmamento. A manifestar todo o seu espanto. Disponho de botões muito sensíveis, bem mais do que eu, de sorte que, diante da minha expressão incolor, abalam-se a me submeter a um teste. O seguinte, que me apresso a repassar aos leitores.

Quem elaborou as perguntas abaixo e as dirigiu a quem? Primeira pergunta: “Por que para a democracia é positivo experimentar uma alternância de poder, depois de ficar oito anos na oposição?” Segunda pergunta: “Como o senhor conseguiu governar seu estado sem nunca sofrer derrota na Assembleia local e sem lançar mão de propinas e outras formas de coerção sobre deputados estaduais?”

Formuladas por quem? A) Veja; B) Time Magazine; C) Herald Tribune.
Dirigidas a quem? A) Franklin Delano Roosevelt; B) Ronald Reagan; C) José Serra.
Fiquei sem resposta. Eles gargalharam, como certos cães os meus botões conseguem rir. Com bons motivos. Haviam manipulado as perguntas para provocar minha dúvida e bondosamente esclareceram: a primeira pergunta fez referência explícita ao governo Lula. A segunda acrescenta a Prefeitura de São Paulo às conquistas do candidato tucano e fala em “mensalões”. Daí ficou fácil. Trata-se de perguntas feitas por Veja a Serra para uma entrevista das célebres páginas amarelas, publicada na edição datada de 23 de junho.

Primor de jornalismo engajado. Partidário. E também hipócrita. Como é do conhecimento do mundo mineral, a rapaziada alega independência, equidistância, isenção. Comovedor, neste sentido, o editorial do Estadão de 22 de junho, intitulado “A confissão do chanceler”. Cuida-se ali de malhar Lula e seu ministro Celso Amorim por terem saído para a mediação com o Irã, incentivados a tanto pelo próprio presidente Obama.

Extraordinário o rumo tomado pelo texto do jornal, a circum-navegar a lógica. Concorda com Amorim, segundo quem Brasília levou uma rasteira de Wash-ington, pois Obama, um mês antes da tentativa turco-brasileira em carta dirigida a Lula, diz textualmente que um acordo com Teerã “representaria uma oportunidade clara e tangível de começar a construir uma confiança mútua”.

Apesar do incentivo do presidente americano, reconhece o editorial, nos EUA “a linha-dura personificada por Hillary Clinton prevaleceu sobre os moderados da Casa Branca”. E então, onde fica a confissão do chanceler? Chegamos à conclusão de que vingou mais uma vez a prepotência do mais forte e que Obama enredou-se em um jogo indigesto, além da conta para ele mesmo. De todo modo, ainda neste caso, que jornalismo é este? Talvez valha como exercício de humorismo.

Às vezes me imaginei entre os 300 das Termópilas, a esperar no desfiladeiro pela investida fatal do exército persa. Parece-me agora que a história começa a ser escrita de forma oposta. Já me permiti comentar neste espaço o crescente fracasso dos persas, digo, da mídia nativa. Ficou claro em 2002, e mais ainda em 2006, que ela atira fora do alvo. A maioria a ignora e este é sinal peremptório de tempos diferentes. A habitual ofensiva contra o governo Lula, destinada agora a abalar a candidatura Dilma, atinge a obsessão e, frequentemente, beira o ridículo.

Fonte: Mino Carta

Olha a reação do Serra após a divulgação da última pesquisa CNI/IBOPE


Ombudsman da Folha nega ao leitor o direito de questionar

A atual ombudsman da Folha, Suzana Singer, é filha do cientista político Paul Singer, historicamente ligado ao PT, e irmã do ex-porta-voz de Lula, André Singer. Foi secretária de Redação da Folha de São Paulo e uma das mentes por trás da linha política que o jornal adotou nos últimos anos, de confrontação aberta com o governo Lula e com seu partido em todos os níveis da política nacional.

Suzana vinha atuando forte na guerra política da Folha contra Lula e Dilma Rousseff desde 2003, ainda que a moça tenha assumido o posto de secretária de Redação bem depois.

O fato é que estamos falando de um jornal que já chegou a publicar, no alto de sua primeira página, uma falsificação de ficha policial da ex-chefe da Casa Civil deste governo e candidata do PT à Presidência. A matéria acusava a ministra de ter pretendido seqüestrar o ex-ministro da Fazenda da ditadura militar Delfim Neto.

Constatada a falsificação do documento, a Folha reconheceu que publicou alguma coisa que diz ter recebido “por e-mail” sem qualquer verificação de sua autenticidade, ainda que tenha dito que não aceitava os vários laudos que recebeu de que se tratava de uma falsificação e que, assim, não poderia confirmar ou negar que era disso que se tratava, de falsificação.

Mas que o jornal reconheceu que publicou uma acusação dessas sem tomar qualquer cuidado jornalístico que inclusive prega seu manual, como o cuidado elementar de investigar a veracidade da ficha policial da então ministra de Estado, reconheceu.

Nessa guerra anti-Lula, Dilma e PT, a Folha também chegou a publicar acusação de um dos vários inimigos políticos de Lula que habitam a Redação do jornal, a acusação vil e baixa de que o presidente da República teria tentado estuprar um adolescente quando esteve preso durante a ditadura militar.

Em sua primeira coluna dominical de estréia como ombudsman, publicada em 25 de abril deste ano, Suzana atacou a blogosfera e todo aquele que tem opinião política diferente da opinião da Folha e declarou que só iria se interessar pelo “leitor real”, aquele que, em sua opinião, é o que fica revoltado com o jornal, mas não manifesta a sua discordância.

Parece-me bem cômodo, mesmo se for o que ela realmente pretende.

Disse Suzana, então:

(…) Em sua coluna de despedida, meu antecessor, o veterano Carlos Eduardo Lins da Silva, disse que não suportaria a eleição presidencial, quando “se exercitarão com força total os piores instintos de parcela pequena mas nefasta do eleitorado engajada na guerra sectária de partidos políticos”.

No que depender de mim, os “trogloditas de espírito”, como descreve Carlos Eduardo, ficarão em segundo plano. O Fla-Flu político, que tem sua expressão máxima na guerra de blogs radicais, interessa a poucos, basicamente seus autores e uns convertidos que se regozijam em reiterar suas convicções (…)

Posso garantir ao leitor que este blog está entre aqueles aos quais Carlos Eduardo e sua sucessora se referiram. O ombudsman anterior passou a me considerar tudo isso que Suzana escreveu porque nos aproximamos, tivemos quatro ou cinco reuniões – ao menos três delas em um restaurante – e assim mesmo eu o critiquei duramente – só que exclusivamente do ponto de vista profissional.

No último domingo, Suzana publicou sua nona coluna dominical na Folha impressa. Depois da primeira, foi a segunda em que tratou de política. Como aconteceu com todos os seus antecessores, não teve como deixar de reconhecer que o jornal, no âmbito de sua cobertura sobre o suposto “dossiê contra Serra”, agiu, mais uma vez, em benefício do PSDB e em malefício do PT.

Eis o que interessa do texto:

(…) Desde sábado retrasado, a Folha vem batendo forte no partido do presidente. No Dia dos Namorados, o jornal manchetou que dossiê feito pelo PT tem dados sigilosos de um dirigente tucano.

Para quem não seguiu esse noticiário, um resumo rápido: a revista “Veja” revelou que pessoas da campanha petista reuniram-se com arapongas em Brasília. Um deles, um delegado aposentado da Polícia Federal, conta que pediram que levantasse “tudo” sobre José Serra, mas ele teria recusado.

Esse grupo de “inteligência” já teria dois dossiês sobre pessoas ligadas ao candidato tucano, um sobre a sua filha. O furo da Folha foi um terceiro conjunto de documentos sobre Eduardo Jorge, vice-presidente-executivo do PSDB. A acusação é mais grave, porque haveria dados fiscais sigilosos do tucano -apenas fazer dossiês não é crime.

A reportagem era toda em “off” (informação de fonte anônima). Só ontem, uma semana depois da manchete, a Folha publicou fac-símiles que comprovariam que os dados vazaram da Receita Federal.

Nos dois dias seguintes ao furo do dossiê, a manchete foi dedicada às convenções que oficializaram as candidaturas. No domingo: “Governo banca esquadrão de militantes, diz Serra”, com uma foto do ex-governador sorridente, braços para cima, vestindo uma camiseta da seleção brasileira com o número 45.

Na segunda-feira: “À sombra de Lula, Dilma promete “alma de mulher’” e uma imagem do presidente discursando e levantando o braço da ex-ministra séria.

Ficou desequilibrado: Serra ataca em ritmo de Copa; Dilma é a candidata sem luz própria. Levando em conta o espírito crítico do noticiário da Folha, a capa sobre Dilma está correta, o erro foi o tom ameno no trato do tucano.

Na semana que passou, o jornal ainda ressuscitou o petista dos dólares na cueca e acusou um dirigente do PT de desfrutar de benesses diplomáticas no exterior. A campanha tucana passou incólume.

PACIÊNCIA

Urge balancear o noticiário político que vinha, até há pouco, equilibrado. Isso não implica, é claro, dar as costas para a notícia, mas cavoucar assuntos dos dois lados.

E saber esperar, uma arte rara em jornalismo. Nesse vácuo de uma semana em que a Folha não agregou nada de novo ao “caso EJ”, espalhou-se todo tipo de boato, o mais inocente de que o jornal tinha requentado notícia velha.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, “exigiu que a verdade fosse restabelecida” em carta ao painel do Leitor-a Folha não respondeu, como costuma fazer em casos como esse. Dilma foi na mesma linha. “Não vemos traço de nenhum documento. Ele não aparece, não se diz qual é”, declarou.

Essa desconfiança poderia ter sido evitada se a reportagem tivesse “”cozinhado” por um tempo maior até que se pudesse dar páginas do dossiê, publicadas ontem. Paciência e equilíbrio editorial, que precisa ser revisto a cada round, são essenciais em tempos de guerra.

A todos que questionam a neutralidade da Folha, respondo que o jornal é apartidário e se pauta pela crítica geral. No Twitter, após dizer isso a um internauta, recebi de volta: “Você ASSEGURA que não há apoio implícito?”.

Outra leitora, por email, questionou a veracidade do dossiê, já que é tudo em “off”. Perguntou: “”Por que tenho que simplesmente acreditar na Folha?” Tive que responder apenas “”porque é o seu jornal”.

Suzana pode procurar nos arquivos da Folha as muitas colunas dominicais que seus antecessores publicaram dizendo a mesma coisa, que o jornal prejudicou o PT em benefício do PSDB e que deixou de investigar este como fez com aquele. Não começou agora. Há uma história, na Folha, desse tipo de prática que ela descreveu.

Mas a ombudsman criticou o patrão meramente por ter publicado denúncias de que dados fiscais sigilosos de Eduardo Jorge tinham sido violados antes da publicação de supostos documentos que teriam sido entregues ao jornal por fontes obscuras. E tenta ver nesses supostos documentos prova de alguma coisa.

Sem provas para sustentar tal enormidade, ela decreta que cabe ao leitor crer cegamente na Folha simplesmente porque ele a lê. Se algum leitor disser que aquilo que a Folha publicou não prova nada contra ninguém e que, portanto, o jornal não poderia ter tratado o material como prova, Suzana, Carlos Eduardo e a empresa dirão que tal leitor é “radical” como os tais blogs aos quais os ombudsmans aludiram.

Essa moça não julga radical publicar falsificações de documentos contra Dilma ou acusações pesadas como as do seu colunista Cezar Benjamin contra Lula, de que ele teria tentado estuprar um adolescente. Radical, para essa pessoa, é protestar contra essas práticas criminosas nas quais ela esteve envolvida até há pouco tempo e que, se o PT tivesse coragem, levariam o jornal à condenação por crime contra a honra em qualquer tribunal do mundo.

O cargo de ombudsman da Folha é uma farsa, novamente ficou demonstrado. Está lá simplesmente para fazer os leitores do jornal de idiotas. Ainda bem que eles são poucos e que diminuem de número a cada dia. Ainda bem que só uma parcela deles, ainda que majoritária, acredita na alegação dessa empresa, chamada Folha, de que ainda faz algum tipo de “jornalismo”.

Fonte: Blog Cidadania

ZERO HORA USA PSICÓLOGOS PICARETAS PARA LINCHAR DUNGA




O tabloide gaúcho Zero Hora, braço impresso da corporação mafiomidiática RBS, fez jus, em sua edição de ontem, 23, ao epíteto de jornalixo, carinhosamente cunhado por este blog. Em texto assinado por um certo Itamar Melo, a gazetinha alinhou-se incondicionalmente à sórdida campanha difamatória movida pelas Organizações Globo contra o técnico Dunga, da seleção brasileira de futebol.

Sob o título “Psicanalistas analisam destemperos do técnico Dunga”, Zero Hora vale-se dos pareceres de “especialistas” para pespegar no treinador as pechas de “neurótico” e “paranóico”, entre outras patologias. Na verdade, foram ouvidos dois picaretas que, no afã de conseguir seus minutinhos de glória, não hesitaram em mandar às favas o Código de Ética Profissional do Psicólogo. O documento, exarado em 2005, no XIII Plenário do Conselho Federal de Psicologia, em Brasília, diz o seguinte em seu Artigo 2 , alínea “q”: “Ao psicólogo é vedado: realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços psicológicos em meios de comunicação, de forma a expor pessoas, grupos ou organizações".
Esperar o que de um veículo que costuma basear suas reportagens em fontes cultivadas nos latões de lixo?

Fonte: Cloaca News

Com biografia polêmica, indicação de Alvaro Dias enfurece o DEM



Potencial vice de José Serra na corrida presidencial, o senador paranaense Alvaro Dias já teve episódios de conflito com o seu partido, o PSDB. Ele foi expulso da legenda em agosto de 2001, após ter assinado o pedido de instalação na CPI da Corrupção, que apuraria irregularidades na gestão Fernando Henrique Cardoso. Filiado ao PDT no segundo mandato do governo FHC, chegou a apoiar o então rival à gestão tucana, Luiz Inácio Lula da Silva, no pleito de outubro de 2002.

De volta ao PSDB, Dias se tornou uma das vozes de oposição mais ferrenhas ao governo petista. Em 2008 teve a imagem arranhada por ter um funcionário de seu gabinete envolvido na divulgação de informações de um suposto dossiê elaborado pela Casa Civil e com dados sigilosos e pessoais de FHC e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso.

Na ocasião, o parlamentar admitiu ter recebido as informações confidenciais, mas alegou a prerrogativa constitucional para manter o sigilo de quem as havia repassado a ele. Judicialmente, Alvaro Dias tem contra si um processo por quebra de sigilo funcional no Supremo Tribunal Federal (STF) e acusações de difamação contra o ex-governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB).

Conforme a ONG Transparência Brasil, o eventual vice de José Serra deixou de declarar R$ 6 milhões à Justiça Federal relativos à venda de uma fazenda. A omissão não constitui crime, pois é obrigatória apenas a declaração de bens ao Poder Judiciário. Na época, disse que apenas não quis se expor com a venda da propriedade em Maringá.

No auge do escândalo do nepotismo, que motivou o Supremo a editar uma súmula proibindo a contratação de parentes, teve exonerada uma sobrinha que trabalhava no Senado. No episódio, o senador disse que assim que foi dada a ordem da Suprema Corte pediu que Valéria Dias deixasse duas funções.

DEM já fala em cancelar coligação com PSDB

Lideranças do DEM no Congresso afirmam que a indicação do senador Alvaro Dias para assumir a vice na chapa de José Serra pode, junto a problemas regionais, abalar o casamento entre as legendas. Fala-se, inclusive, em desmontar a coligação já homologada na convenção tucana em 12 de junho.

Tucanos dizem que o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, se precipitou ao fazer o anúncio no Twitter. O petebista disse que Alvaro Dias seria o vice, mas os tucanos passaram a, formalmente, apresentar o nome de Dias como um consenso na legenda.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), já conversou com o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), sobre o assunto. O parlamentar carioca tem reiterado que, após a saída do ex-governador mineiro Aécio Neves da disputa pelo cargo de vice, o DEM teria direito ao posto. Um integrante do partido afirmou que outro agravante para o desconforto entre PSDB e DEM está concentrado em três Estados: Sergipe, Pará e Santa Catarina.

Serra deve ir ao Rio de Janeiro para participar da convenção nacional do PPS neste sábado. Aliados tucanos afirmam que o candidato deve conversar com Rodrigo Maia.

Para o senador Alvaro Dias, o DEM fará as concessões necessárias em nome da aliança PSDB-DEM-PPS-PTB. "O importante é o projeto que Serra lidera. Tenho para mim que o DEM fará as concessões necessárias em nome desse projeto. O importante é estabelecer a unidade", defendeu Dias.

"Agressão completa"

Mas algumas lideranças do DEM parecem não estar dispostas a ceder tão fácil. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), por exemplo, criticou duramente a indicação de Alvaro Dias. “Isso é uma agressão completa ao Democratas”, afirmou o deputado goiano.

“Se isso é um fato consumado, o partido tem de se reunir e repensar sua posição... É simplesmente um desastre”, explicou Caiado ao Congresso em Foco. Ele ainda comentou que uma eventual indicação de Alvaro Dias para compor a chapa de Serra é um rearranjo interno dos tucanos, que procuram acomodar o senador após ele não ganhar a legenda para concorrer ao governo do Paraná.

“As lideranças da educação têm horror ao Alvaro”, destaca Caiado, explicando que quando governador, o tucano chegou a lançar “a cavalaria” contra professores.

Paraná

Na última quarta-feira (23), Guerra telefonou para Alvaro Dias e avisou que, caso seu irmão Osmar Dias (PDT-PR) aceitasse o acordo de concorrer ao Senado na chapa do ex-prefeito de Curitiba Beto Richa, as lideranças tucanas tentariam convencer o DEM a conceder a vaga de vice do presidenciável José Serra a ele. Osmar Dias é o nome indicado por sua atual legenda para disputar o governo do Paraná na chapa com PMDB e PT e deve apresentar ainda nesta sexta-feira sua decisão.

Fonte: Terra

Fidel Castro: Como gostaria de estar enganado



Em mais um artigo de sua série de reflexões, Fidel Castro analisa as ações belicistas dos Estados Unidos, que parecem passar despercebidas por boa parte da população entretida com os jogos da Copa do Mundo. “Haveria de se perguntar quantos, em contrapartida, tomaram conhecimento que desde o dia 20 de junho, navios militares norte-americanos (...) navegam pelas costas iranianas através do canal de Suez”, escreve. Acompanhe a íntegra a seguir.


Quando estas linhas tiverem sido publicadas no jornal Granma desta sexta-feira, o dia 26 de Julho – data em que sempre recordamos com orgulho a honra de termos resistido aos ataques do império – estará distante, apesar de faltarem apenas 32 dias.

Os que determinam cada passo do pior inimigo da humanidade – o imperialismo dos Estados Unidos, uma mescla de mesquinhos interesses materiais, desprezo e subestimação às demais pessoas que habitam o planeta – o calcularam com precisão matemática. Na reflexão do dia 16 de junho, escrevi: “A cada jogo da Copa do Mundo, as diabólicas notícias vão deslizando pouco a pouco, de modo que ninguém se ocupe delas”.

O famoso evento esportivo entrou em seus momentos mais emocionantes. Durante 14 dias, as equipes integradas pelos melhores futebolistas de 32 países estiveram competindo para avançar até a fase de oitavas de final; depois virão sucessivamente as fases de quartas de final, semifinais e o final do evento. O fanatismo esportivo cresce incessantemente, envolvendo talvez centenas de milhares de pessoas em todo o planeta.

Haveria de se perguntar quantos, em contrapartida, tomaram conhecimento que desde o dia 20 de junho, navios militares norte-americanos – incluídos o porta-aviões Harry S. Truman, escoltado por um ou mais submarinos nucleares e outros submarinos de guerra com foguetes e canhões mais potentes que os dos velhos encouraçados utilizados na última guerra mundial entre 1939 e 1945 – navegam pelas costas iranianas através do canal de Suez.

Junto às forças navais ianques, avançam submarinos militares israelenses, com armamento igualmente sofisticado para inspecionar qualquer embarcação que parta para exportar e importar produtos comerciais necessário ao funcionamento da economia iraniana.

O Conselho de Segurança da ONU, por proposta dos Estados Unidos e com o apoio da Grã-Bretanha, França e Alemanha, aprovou uma dura resolução que não foi vetada por nenhum dos cinco países que ostentam esse direito. Outra resolução, mais dura, foi aprovada por acordo do Senado dos Estados Unidos. Posteriormente, uma terceira e, todavia mais dura, foi aprovada pelos países da Comunidade Europeia. Tudo isso ocorreu antes do dia 20 de junho, o que motivou uma viagem urgente do presidente francês Nicolas Sarkozy à Rússia, segundo o noticiário, para encontrar-se com o chefe de Estado desse poderoso país, Dmitri Medvédev, na esperança de negociar com o Irã e evitar o pior.

Agora, trata-se de calcular quando as forças navais dos EUA e de Israel se colocarão frente às costas do Irã e se unirão ali aos porta-aviões e demais submarinos militares norte-americanos que montam guarda nessa região.

O pior é que, assim como os Estados Unidos, Israel – seu gendarme no Oriente Médio – possui moderníssimos aviões de ataque e sofisticadas armas nucleares fornecidos pelos EUA, o que os converteu na sexta potência nuclear do planeta por seu poder de fogo entre as oito reconhecidas como tais, grupo que inclui ainda a Índia e o Paquistão.

O xá do Irã havia sido derrocado pelo aiatolá Ruhollah Komeini em 1979 sem usar uma arma. Os Estados Unidos impuseram a guerra àquela nação com o emprego de armas químicas, cujos componentes forneceu ao Iraque junto com a informação requerida por suas unidades de combate e que foram empregadas por estas contra os Guardiões da Revolução. Cuba o conhece porque era então, como explicado outras vezes, presidente do Movimento de Países Não Alinhados. Sabemos bem os estragos que causou em sua população. Mahmoud Ahmadinejad, hoje chefe de Estado do Irã, foi chefe do sexto exército dos Guardiões da Revolução e chefe do Corpo de Guardiões nas províncias ocidentais do país, que tiveram peso fundamental naquela guerra.

Hoje, em 2010, tanto os EUA como Israel, depois de 31 anos, subestimam milhares de homens das Forças Armadas do Irã e sua capacidade de combate por terra e as forças aéreas, marítimas e terrestres dos Guardiões da Revolução.

A estas se somam os 20 milhões de homens e mulheres, entre 12 e 60 anos, escolhidos e treinados sistematicamente por suas diversas instituições armadas entre os 70 milhões de pessoas que habitam o país.

O governo dos Estados Unidos elaborou um plano para levar a cabo um movimento político que, apoiando-se no consumismo capitalista, que dividiria os iranianos e derrotaria o regime. Tal esperança é inócua. É risível pensar que com os navios de guerra estadunidenses, unidos aos israelenses, despertem as simpatias de apenas um cidadão iraniano.

Acreditava inicialmente, ao analisar a atual situação, que a contenda começaria pela península da Coreia, e ali estaria o detonador da segunda guerra coreana que, por sua vez, daria lugar imediatamente à segunda guerra que os EUA imporiam ao Irã. Agora, a realidade muda as coisas em sentido inverso: a do Irã desatará de imediato a da Coreia.

A administração central da Coreia do Norte, que foi acusada de afundar o navio Cheonan e sabe que o mesmo foi afundado por uma mina que os serviços de inteligência ianques conseguiram colocar no casco desse navio, não esperariam um segundo para agir tão logo se iniciasse um ataque ao Irã.

É muito justo que os fanáticos pelo futebol desfrutem como desejarem das competições da Copa do Mundo. Cumpro apenas o dever de exortar nosso povo, pensando, sobretudo, em nossa juventude, cheia de vida e esperanças, e especialmente em nossas maravilhosas crianças, para que os fatos não nos surpreendam absolutamente desprevenidos.

Dói-me pensar em tantos sonhos concebidos pelos seres humanos e as assombrosas criações feitas em poucos milhares de anos. Quando os sonhos mais revolucionários estão reunidos e a pátria se recupera firmemente, como eu gostaria de estar equivocado!

Fonte: Reflexões de Fidel, no site Cuba Debate, com tradução do Vermelho

Por que o governo FHC deu errado



Por Emir Sader



FHC teve a audácia de assumir o modelo neoliberal adotado por François Mitterrand, a partir do seu segundo ano de governo, e por Felipe Gonzalez, desde o começo. Acreditou no Consenso de Washington, de que qualquer governo “sério” teria que adotar as suas recomendações, não apenas cuidando dos desequilíbrios fiscais, mas centrando seu governo na estabilidade monetária.

A passagem dos governos Thatcher e Reagan aos de Blair e Clinton dava a impressão a um observador superficial que, qualquer que fosse o governo, o ajuste fiscal seria o seu eixo. Que haveria que terminar com os direitos sociais sem contrapartidas – como tinha feito Clinton, ao dar por terminado o Estado de bem estar social, instalado por Roosevelt.

Para isso, no Brasil, seria preciso atacar o Estado herdado de Getúlio e os movimentos sociais, que certamente defenderiam os direitos sociais a serem atacados, para recompor as contas públicas. Até ali, os tucanos tinham dado passos tímidos primeiro nessa direção, com o “choque de capitalismo” do Covas em 1989, passaram a atitudes mais audazes, como a entrada de uma avançada do partido no governo Collor – entre eles, Celso Lafer, Sergio Rouanet -, preparando o desembarque oficial, de que se salvaram pelo veto do Covas e pela queda do Collor.

Chamado pelo desorientado – até hoje – Itamar, FHC assumiu, eufórico, a globalização neoliberal como “o novo Renascimento da humanidade” (sic), nas suas próprias palavras. Era um destino inexorável, que a “atrasada” esquerda brasileira não percebia e seria esmagada pela nova onda. Seu vocabulário desqualificador das divergências, sua empáfia privatizadora, sua truculência ao mudar o nome da Petrobrás para torná-la um “global player” e privatizá-la, revelavam a auto- confiança daquele que representava a voz inteligente da “terceira via” nas periferias da vida, que convivia com Blair, Clinton e companhia nos seus ágapes globais.

Confiou-se de tal maneira de que o controle monetário, a partir da caracterização tentadora de que “a inflação é um imposto aos pobres”, que embora tivesse a sua mulher encarregada de políticas sociais – no estilo mais tradicional das primeiras damas -, o peso dessas nunca passou do figurino e do marketing, sem efeito algum que se contrapusesse à desigualdade social, acelerada no seu governo, uma vez passados os efeitos imediatos do controle da inflação. Um economicismo barato dominou seu governo – que ao contar com o coro unânime da imprensa, com a maioria absoluta no Congresso e com o apoio internacional, - acreditava no seu sucesso inevitável.

Afinal, Mitterrand e Felipe Gonzalez tinham se perpetuado por mais de uma década no governo dos seus países, Clinton e Blair gozavam também de grande popularidade, a adesão de forças tradicionais ao neoliberalismo parecia dar certo na Argentina, no México, no Chile. Não haveria alternativa ao Consenso de Washington e ao Pensamento Único, como havia previsto Margareth Thatcher – parecia estar plenamente convencido FHC, ainda mais quando foi reeleito no primeiro turno em 1998 – com pressa, porque a crise já era iminente e o Malan já negociava nova Carta de Intenções com o FMI, preparando-se para levar as taxas de juros, em janeiro de 1999 aos estratosféricos 48%, sem nenhum protesto do ministro José Serra.

Os primeiros anos da estabilização monetária foram os de auge de FHC, que lhe propiciaram um segundo mandato, mas naquele momento já havia iniciado seu declínio. As Cartas de Intenções do FMI, a profunda convicção nas teses do Estado mínimo, da predominância do mercado, nas privatizações, na abertura da economia, levaram o país a uma profunda e prolongada recessão, ao mesmo tempo em que o próprio sucesso do controle da inflação começava a desandar.

Serra não era o candidato da predileção de FHC, entre os dois travou-se uma dura guerra, quando a saúde afastou Covas da parada. Mas qualquer que fosse o candidato, teria perdido para Lula naquele momento. Serra tentou não arcar com o ônus do governo FHC e FHC tentou dizer que a derrota era do Serra e dele. Mas, abraçados ou não, os dois foram a pique.

Essa derrota pesa definitivamente sobre o destino tucano. Não tiveram capacidade de conquista de bases populares mais além da estabilidade monetária, até porque não tinham plano de retomada do desenvolvimento – palavra totalmente enterrada por eles – e de distribuição de renda. Foram derrotados pelo seu sucesso efêmero e artificial, financeiro, especulativo.

Hoje, quando a depressão da derrota – agora inevitável – domina o ninho tucano, os ataques, as cotoveladas e caneladas sobram para todo lado. Certamente consciente da derrocada do Serra, FHC se apressou a dizer, antes mesmo da divulgação da pesquisa do Ibope, que via com sérias preocupações as possibilidades do candidato tucano, apesar de que ele tinha “ajudado”. Deixava o cadáver para os outros, aqueles que tentaram esconde-lo, a ele e a seu governo. Imaginem-se as palavras que Serra deve ter reservado para FHC, que na hora da débâcle, lhe dá as costas.

A escolha do vice tornou-se um calvário. Não se trata agora de escolher um vice que consiga votos, mas um que tire menos votos e, conforme a indecisão foi aumentando a lista de pré-candidatos, descontente a menor gente. Chega-se ao que a pesquisa do Datafolha os tinha livrado, aparentemente: o de chegar a uma Convenção em queda livre nas pesquisas e sem o Aécio.

O governo FHC deu errado como o neoliberalismo deu errado. Sua derrota e a crise final dos tucanos representam isso. Por isso, a vitória da Dilma tem que ser a vitória da esquerda e do campo popular, da superação do neoliberalismo, do fortalecimento do Estado, do desenvolvimento econômico e social, do Brasil soberano, da construção de uma sociedade justa, solidária e próspera.

Postado por Emir Sader às 05:08

sexta-feira, 25 de junho de 2010

DEM não aceitará Dias com vice de Serra, diz Caiado

O vice-presidente do Democratas (DEM), deputado Ronaldo Caiado (GO), reagiu com indignação à notícia de que o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) seria indicado para a vaga de vice na chapa de José Serra à Presidência da República. Caiado afirmou que defenderá na Executiva do partido a quebra da aliança com o PSDB.

"Essa atitude do PSDB de tentar tirar do Democratas a vaga de vice de José Serra é desastrosa e inconsequente. O PSDB bagunça um grande colégio eleitoral que é o Paraná, desestabiliza partidos aliados por um nome (Álvaro Dias) que não vai acrescentar", publicou em seu perfil no site de microblogs Twitter.

O dirigente democrata acrescentou que conversou hoje com o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), que lhe assegurou que a sigla não abrirá mão da vaga de candidato a vice-presidente. "O PSDB precisa jogar como um time. Declaramos apoio a José Serra, cumprimos com o nosso papel e agora é hora do PSDB fazer o mesmo. Aliança com chapa puro sangue não é aliança, é colocação em posição de subserviência", concluiu Caiado.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), que coordena a campanha de José Serra, está reunido com Rodrigo Maia em Aracaju (SE) para discutir o nome do vice do tucano.

Histórico

Por volta das 11 horas, o presidente nacional do PTB, o deputado cassado Roberto Jefferson, divulgou em seu Twitter que o PSDB teria batido o martelo pelo nome de Alvaro Dias. Mais tarde, em Cuiabá (MT), o paranaense confirmou a indicação e disse que aceitaria o cargo.

Essa sequencia de fatos causou mal-estar na aliança PSDB-DEM e abriu nova crise na campanha tucana, num momento difícil, logo após a divulgação da pesquisa CNI/Ibope mostrando Dilma Rousseff (PT) cinco pontos percentuais à frente de Serra. Até agora, nem Sérgio Guerra nem José Serra confirmaram que Alvaro Dias será mesmo vice de Serra.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Crime Eleitoral: Deputado carioca faz campanha antecipada para Serra e Gabeira usando o Ficha Limpa

Claudio Ribeiro
Blog Palavras Diversas

Deputado carioca faz campanha antecipada para Serra e Gabeira usando o
Ficha Limpa

Na tarde de hoje, 23 de junho, achei que tinha perdido a noção do tempo
e que me encontrava em pleno período eleitoral. Pelas ruas do bairro do
Catete, zona do sul do Rio de Janeiro, recebi sem pedir das mãos de um
rapaz aquilo que, em um primeiro momento, me pareceu um panfleto de
campanha dos candidatos José Serra e Fernando Gabeira.

Na capa, foto de Serra e Gabeira ao lado de um jovem. Um exame mais
atento permitiu-me ver o que parecia ser um informativo sobre o Ficha
Limpa, projeto que revê critérios de inelegibilidades, capitaneado pelo
Deputado Federal pelo DEM Indio da Costa, o tal jovem ao lado de Serra
e Gabeira.

O descaramento é percebido depois da leitura do ?informativo?. Fala-se
do Ficha Limpa, desfila-se o book das vaidades do nobre Deputado e...

Nada de falar de Serra e Gabeira! É só a foto da capa. Panfleto,
campanha antecipada. Uma evidente ilegalidade.

Em volta do distribuidor dos panfletos, centenas deles jogados no chão e
presos nos para-brisas dos carros estacionados.

Clima de campanha!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Pesquisa Ibope aponta Dilma com 40% e Serra com 35%

Levantamento foi encomendado pela Confederação Nacional da Indústria.
Na pesquisa Ibope anterior, Dilma e Serra apareciam empatados com 37%.

Do G1, em Brasília

Pesquisa Ibope divulgada nesta quarta (23) em Brasília mostra a candidata do PT, Dilma Rousseff, com 40% e o candidato do PSDB, José Serra, com 35% na corrida eleitoral pela Presidência da República. Marina Silva (PV) tem 9% das intenções de voto, segundo o levantamento, encomendado ao instituto pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O cenário da pesquisa que apresentou esses resultados é o que inclui somente Dilma, Serra e Marina. No cenário que inclui 12 candidatos, Dilma aparece com 38,2%, Serra, 32,3% e Marina, 7%.

É a primeira vez que Dilma aparece à frente de Serra numa pesquisa de intenção de voto para presidente. Na pesquisa Ibope anterior, divulgada no último dia 5 e feita por encomenda da TV Globo e do jornal “O Estado de S.Paulo”, Dilma e Serra apareciam empatados com 37% das intenções de voto. Marina Silva acumulava 9%.

A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos (portanto, Dilma pode ter entre 38% e 42%; Serra, entre 33% e 37%; e Marina, entre 7% e 11%).
A pesquisa é a primeira realizada após a oficialização das candidaturas de Dilma, Serra e Marina pelas convenções partidárias. O Ibope entrevistou 2.002 eleitores entre os dias 19 e 21em 140 cidades.

Disseram que votarão em branco ou nulo 6% dos entrevistados. Os que responderam que ainda não sabem em quem votar são 10%, segundo o Ibope.

Segundo turno

Na simulação de segundo turno, Dilma teria 45% e Serra, 38%, segundo o Ibope. Na hipótese de segundo turno entre Dilma e Marina, a petista venceria por 53% a 19%. Serra ganharia de Marina por 49% a 22%.

terça-feira, 22 de junho de 2010

O rompimento entre PSDB e PSB no Ceará

De o Globo

PSDB confirma rompimento com o PSB de Cid Gomes

Isabela Martin

FORTALEZA - O PSDB anunciou nessa terça-feira que o deputado estadual Marcos Cals disputará pela legenda contra o governador Cid Gomes (PSB), de quem foi secretário de Justiça até abril, quando se desincompatibilizou.

O anúncio foi feito no princípio da tarde após encontro que reuniu 230 pessoas, sendo 40 prefeitos do partido, no escritório do senador Tasso Jereissati (PSDB), em Fortaleza. Pressionado fortemente para disputar o governo pela quarta vez, Jereissati teria alegar questões de "pudor".

A candidatura confirma o rompimento do PSDB com o governador Cid Gomes, anunciado há 13 dias. Mas não põe fim às contradições da decisão. Uma delas é o fato de existir tucanos ocupando cargos no governo, como o ex-secretário geral do PSDB, Bismarck Maia, secretário do Turismo.


Sobre o alinhamento quase incondicional do PSDB ao governo de Cid Gomes, o presidente estadual da legenda, Marcos Penaforte disse que o partido continuará com uma "posição elegante", embora não mais de "acordo automático" com o governo.

Até pelo estilo pessoal, o candidato tucano não deverá bater de frente com o governo ao qual serviu até dois meses atrás. Marcos Cals irá fazer um discurso em nome de um "novo ciclo das mudanças", numa referência ao slogan que marcou o primeiro governo de Tasso Jereissati (1987-1991).

- Tem muitas coisas que o PSDB vai se debruçar, vai começar a pensar o que é que pode caracterizar um novo ciclo de mudanças no estado do Ceará, disse Penaforte. - Nós fazemos uma oposição responsável, de críticas construtivas, de construção e não de desconstrução dos nossos adversários. Então o PSDB vai continuar tendo uma posição elegante, não mais de acordo automático com o governo do estado.

Até a próxima segunda-feira deverá ser confirmada também a candidatura do ex-governador Lúcio Alcântara (PR), numa coligação com o PPS. Apesar de rompido com Lúcio, intermediadores garantem que existe um pacto de não agressão entre eles. A idéia é levar a disputa para o segundo turno. A candidatura de Lúcio dividiria o palanque da petista Dilma Rousseff no Ceará.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Lula dá 7,7% aos aposentados. Bye-bye Serra 2010


Do Conversa Afiada

Saiu no G1

Lula sanciona reajuste de 7,7% para aposentados, diz Mantega

Para compensar, equipe econômica fará cortes no orçamento.Presidente vetou o fim do fator previdenciário, disse ministro.

Nathalia Passarinho Do G1, em Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu sancionar nesta terça-feira (15) o reajuste de 7,7% aos aposentados que ganham acima de um salário mínimo, anunciou hoje o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O fim do fator previdenciário, que reduz os gastos da Previdência com aposentadorias, será vetado, afirmou o ministro. Esta terça era a data-limite para a decisão.

O reajuste dos aposentados e a extinção do fator previdenciário foram aprovados em uma derrota do governo no Congresso Nacional. A medida provisória enviada pelo Executivo era de um reajuste de 6,14% – índice acordado com as centrais sindicais.

No entanto, Câmara e Senado aprovaram uma emenda elevando o índice para 7,7%. Segundo o Ministério da Previdência Social, o reajuste de 7,7% traria um custo de R$ 1,8 bilhão anuais aos cofres públicos. Segundo Mantega, será feito um corte de R$ 1,6 bilhão no orçamento para compensar os gastos com o reajuste dos aposentados.

Sensus: Em Minas, Dilma aumenta vantagem sobre Serra


Ultrapassagem

Dilma Rousseff tem 37% contra 32% de José Serra

do jornal mineiro O Tempo

A nova pesquisa Sensus também traz os números da disputa presidencial. Ela mostra a consolidação da candidata do PT, Dilma Rousseff, sobre seu principal adversário, José Serra, do PSDB. Dilma aparece com 37,3% contra 32,1% de Serra. Considerando a margem de erro de 2,5 pontos percentuais, a petista mantém a dianteira – mesmo que por dois décimos – em sua pior estimativa contra a melhor do tucano.

A candidata do PV, Marina Silva, aparece com 7,3%. Outros 20,6% dos entrevistados disseram que vão votar em branco ou nulo ou se disseram indecisos. Os demais oito concorrentes à Presidência não ultrapassaram a marca de um ponto.

O levantamento anterior, de maio, apontava empate técnico entre Dilma e Serra. A diferença entre eles, que era de um ponto percentual em favor da ex-ministra, cresceu para 5,2.

Provando que a população já conhece sua candidatura, a petista lidera também no cenário espontâneo. Ela recebeu menção de 24,3% dos eleitores contra 18% de Serra e 4,2% de Marina. No entanto, 44,5% disseram estar indecisos ou pretendem votar em branco ou nulo.

Na simulação de segundo turno, porém, o tucano mantém a liderança, mas com valor inferior à margem de erro. Ele aparece com 41,7% e a petista, com 40,5%. (Da Redação)
Publicado em: 15/06/2010

sábado, 12 de junho de 2010

Serra: apelos para Aécio e dossiês contra Tasso. 'Você não está vendo que é minha última oportunidade?'



Enviado por luisnassif, sab, 12/06/2010 - 09:25

Autor: Alexandre de Carvalho Fraga
A folha agora entrou no regime de um escândalo por dia. mas a reportagem campeã deste fim de semana foi feita pela Eliane Samarco no estadão. imperdível. Certamente a carreira dela corre perigo.

http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,voce-nao-esta-vendo-que-e-minha-ultima-oportunidade,565275,0.htm#noticia

Comentário

A matéria fala do dossiê montado contra Tasso (que a própria Veja noticiara muitos anos atrás). E ajuda a entender a suprema ironia de Aécio Neves, quando sugeriu a Serra convidar Tasso para vice.

Trecho da matéria:

Na chegada ao Alvorada, deparou-se com o ex-ministro da Justiça e secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira, mas não amenizou as críticas. Ao contrário: Tasso tinha Aloysio como o "ponta de lança" de Serra contra ele e ainda achava que FHC atuava para desequilibrar a disputa sucessória em favor de São Paulo. Pior, suspeitava da influência de Aloysio sobre uma operação da Polícia Federal que colocou agentes em seu encalço, em meio a uma investigação de lavagem de dinheiro.

Neste cenário, o que era para ser um jantar de autoridades no salão palaciano descambou para as ofensas em tom crescente, a ponto de Tasso apontar "a safadeza e a molecagem" do ministro, que agiria para prejudicá-lo. Bastou um "não é bem assim" de Aloysio para o bate-boca começar.

"Vocês jogam sujo!", devolveu Tasso.

"Vocês quem?", quis saber Aloysio.

"Você... o Serra... Vocês estão jogando sujo e eu estou saindo (da disputa presidencial) por causa de gente como você, que está me fodendo nesse governo", reagiu Tasso.

A matéria confirma, também, minha previsão de agosto ou setembro do ano passado, de que Serra iria tirar o time de campo., deixando a bomba para o partido Não tirou apenas por conta da jogada de mestre de Aécio, tirando o time de campo a tempo.

E reforça outra previsão: passadas as eleições, provavelmente a partir do próximo ano, haverá uma revisão do perfil do Serra pela velha mídia. E o que se verá é a mesma coisa que me deixou espantado, ao me dar conta de que o Serra que emergiu prefeito e governador nada tinha a ver com o parlamentar que conheci.

Do Estadão

'Você não está vendo que é minha última oportunidade?'

Durante encontro a sós numa madrugada de março, o então governador José Serra usou com Aécio neves o argumento que mostra sua obstinação em buscar a Presidência da República

Christiane Samarco / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Ele sonha com a Presidência da República desde menino e trabalha metódica e obstinadamente para chegar lá há exatos 12 anos, 2 meses e 12 dias, desde que assumiu o comando do Ministério da Saúde, em 1998. Mas quando tudo parecia resolvido, com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, já fora do páreo, no final de janeiro deste ano José Serra vacilou.

A indecisão assombrou os cinco políticos mais próximos do candidato, a quem ele mais ouve. Foi o mais ilustre membro deste quinteto – o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – quem deu o ultimato e acabou com a indefinição: "Serra, agora é tarde. Você não pode mais desistir".

O comando tucano estabelecera prazo até o Carnaval para que Serra desse uma demonstração pública que não deixasse dúvidas quanto à decisão de enfrentar o mito Lula e a máquina petista do governo. Serra ainda silenciou por quase uma semana. Voltou à cena, pedindo ao presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE), e ao amigo deputado Jutahy Júnior (BA), que organizassem uma programação para ele participar dos carnavais de rua do Recife e de Salvador, na semana seguinte.

A pressão pela definição era tão grande, que até a reportagem de uma revista semanal britânica repercutiu no Brasil. A respeitada The Economist que circulou na primeira semana de fevereiro trazia um artigo afirmando que o governador José Serra esperava, "com paciência demais" pela Presidência. Disse ainda: "Serra precisa subir no banquinho e começar a cantar seus elogios agora. Do contrário será lembrado como o melhor presidente que o Brasil nunca teve."


no clima do dito popular sobre o calendário do Brasil, no qual o ano só começa depois do carnaval, Serra assumiu mesmo os compromissos pré-eleitorais no embalo do Momo. "As dúvidas do Serra nunca foram hamletianas. Sempre foram objetivas", diz o governador Alberto Goldman.

Em conversas reservadas, Serra já havia reclamado da "falta de estrutura" do partido. Boa parte da dúvida vinha da falta de sustentação partidária. Diferentemente do PT, o PSDB não é um partido de base e de organização, com estrutura para dar o suporte que uma disputa acirrada pela Presidência da República requer. Para o amigo Jutahy, os momentos de indefinição decorreram do fato de que Serra "nunca jogou com uma alternativa única". Da mesma forma, acrescenta, ele jamais seria candidato só para marcar posição. "O Serra acredita na possibilidade de vitória".

O convite explícito ao ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves, para que aceitasse a vice na chapa puro-sangue do PSDB, demorou mais 30 dias – veio na primeira hora da terça-feira 3 de março, no Hotel Meliá em Brasília. Na conversa reservada, sem testemunhas, que avançou pela madrugada, Serra não hesitou em usar seus 68 anos de idade como argumento, para convencê-lo a aceitar a dobradinha café com leite.

"Você não está vendo que esta é minha última oportunidade?", ponderou, para salientar que Aécio é jovem e que um dia, "fatalmente", o neto de Tancredo Neves chegará a Presidência da República. Em resposta, o mineiro repetiu a tese de que a melhor forma de ajudá-lo seria dedicando-se à campanha de Minas, disputando o Senado – e o governador Antônio Anastasia, a reeleição.

No voo de volta a Belo Horizonte, no dia 10 de abril, depois do Encontro dos Partidos Aliados – quando Serra apresentou a candidatura e Aécio foi recebido por 3 mil militantes aos gritos de "vice, vice, vice" – o governador de Minas confidenciou a um interlocutor o temor de que o anúncio da dobradinha com Serra fosse um "fato político efêmero".

Admitiu que sua presença na chapa poderia até dar um "upgrade" à candidatura tucana, mas também avaliou que o entusiasmo seria rapidamente consumido. "Muita gente fala que é importante eu ser vice, mas um anúncio desses só alimentaria o noticiário por 15 dias". Ainda assim, ele não fechou de todo a porta à chapa café com leite.

Serra já estava avisado de que, com Aécio, não adiantaria pressão. O recado velado veio embutido no discurso de homenagem ao centenário de nascimento de seu avô Tancredo, realizada uma semana depois. Da tribuna do Senado, em sessão solene para lembrar Tancredo Neves, Aécio fez questão de citar a frase com a qual o avô respondera à pressão do então deputado João Amazonas (PC do B) em 1985, para que assumisse posições radicais: "Não adianta empurrar. Empurrado eu não vou."

Não foi por pressão ou por temor do confronto que Aécio decidiu sair do páreo. Na lógica de um dirigente tucano que o acompanha, ele não quis "ir para o pau" porque não poderia construir uma candidatura a presidente rompido com o candidato a governador de São Paulo. Além disso, ao final do ano passado as pesquisas eleitorais mostravam que ele não havia empolgado o País. Ficou claro que insistir na disputa interna seria um desgaste político.

Boa parte dos movimentos de Aécio rumo ao Planalto foi feita no embalo da resistência de companheiros a mais uma candidatura de São Paulo. Desde 2002, o tucanato das várias regiões amarga um incômodo e um certo cansaço em relação à hegemonia paulista. A queixa geral é de que ser um candidato a presidente "fora do establishment" é muito difícil em qualquer circunstância. Praticamente impossível, se houver um concorrente de São Paulo.

Esse sentimento tomou conta das regionais do partido depois da morte de Mário Covas. O câncer que tirou Covas do governo de São Paulo levou junto o candidato natural do PSDB a presidente da República e também a possibilidade da construção pacífica de uma candidatura de consenso.

Já bastante doente, Covas recebeu, em 2000, a visita de Tasso no Palácio dos Bandeirantes. Em meio à conversa sobre cenário político nacional e a sucessão presidencial, o anfitrião abriu o jogo. "Não vou ter saúde para ser candidato. Essa disputa vai ficar entre você e o Serra. E meu candidato é você", avisou. Em seguida, fez questão de telefonar para o presidente Fernando Henrique, comunicando sua preferência.

Tasso lançou-se na disputa presidencial em 2001, ao final do seu terceiro mandato de governador do Ceará. Além do incentivo de Covas, morto em março daquele ano, arrebanhou apoios públicos no PFL do senador Antonio Carlos Magalhães (BA). Mas acabou desistindo, com queixas de que havia "uma espécie de conspiração paulista em favor de Serra, desequilibrando a disputa interna".

"Eu vim aqui comunicar que não serei mais candidato a presidente. Estou saindo fora", disse Tasso ao presidente Fernando Henrique. Era dezembro de 2001, quando o cearense chegou ao Palácio da Alvorada, já muito irritado e disposto a protestar contra "setores do PSDB no governo" que estariam dificultando a liberação de recursos para o Ceará e, pior, investigando sua vida.

Na chegada ao Alvorada, deparou-se com o ex-ministro da Justiça e secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira, mas não amenizou as críticas. Ao contrário: Tasso tinha Aloysio como o "ponta de lança" de Serra contra ele e ainda achava que FHC atuava para desequilibrar a disputa sucessória em favor de São Paulo. Pior, suspeitava da influência de Aloysio sobre uma operação da Polícia Federal que colocou agentes em seu encalço, em meio a uma investigação de lavagem de dinheiro.

Neste cenário, o que era para ser um jantar de autoridades no salão palaciano descambou para as ofensas em tom crescente, a ponto de Tasso apontar "a safadeza e a molecagem" do ministro, que agiria para prejudicá-lo. Bastou um "não é bem assim" de Aloysio para o bate-boca começar.

"Vocês jogam sujo!", devolveu Tasso.

"Vocês quem?", quis saber Aloysio.

"Você... o Serra... Vocês estão jogando sujo e eu estou saindo (da disputa presidencial) por causa de gente como você, que está me fodendo nesse governo", reagiu Tasso.

"Jogando sujo é a puta que o pariu", berrou Aloysio, já partindo para cima do governador. Fora de controle e vermelho de raiva, Tasso chegou a arrancar o paletó e os dois armaram os punhos para distribuir os socos. Foi preciso que um outro convidado ilustre para o jantar no Alvorada, o governador do Pará, Almir Gabriel, entrasse do meio dos dois, com as mãos para cima, apartando a briga. Fernando Henrique, estupefato, pedia calma.

Diante da desistência pública do cearense e das indagações da imprensa sobre o racha no PSDB e sobre o que Serra poderia fazer para unir o partido, Arthur Virgílio disse diante das câmeras de televisão que falar com Tasso era fácil. "Basta discar o DDD 085 e o número do telefone", sugeriu.

"Mas o que é isso? Você me ensinando a falar com Tasso pela TV?", cobrou Serra. "Não fiz para te sacanear. Só respondi à pergunta de como vocês iriam se falar. Você é o meu candidato a presidente", amenizou Virgílio. O telefonema não aconteceu e Tasso acabou optando pela candidatura presidencial do amigo e conterrâneo Ciro Gomes, que lhe pedia apoio e ajuda e com quem nunca se atritou.

Também foi nos braços de Ciro que os aliados do PFL se jogaram na eleição de 2002. Serra estava rompido com os pefelistas, hoje rebatizados de DEM, desde o desmonte da candidatura presidencial de Roseana Sarney, a partir de uma operação da Polícia Federal que investigou fraudes na Sudam. Em 1º de março de 2001, a PF encontrou R$ 1,34 milhão em cédulas de R$ 50 no cofre da empresa Lunus Participações e Serviços Ltda, de propriedade de Roseana e seu marido Jorge Murad. O casal não esclareceu a origem do dinheiro. O episódio deixou sequelas.

O PFL demorou a se aproximar de Serra. O cacique Antonio Carlos Magalhães dizia que Serra fazia aquilo que era a especialidade do baiano: atropelava todos de quem não gostava. Contava que ele próprio fora atropelado por conta da amizade do paulista com Jutahy.

Nos últimos meses de Serra à frente do Ministério da Saúde, em 2002, quando agilizava os convênios com prefeituras de todo o Brasil para deixar a pasta, o ministro recebeu um telefonema de ACM com um recado direto: "Eu quero que Jutahy perca esta eleição. Quem ajudá-lo não é meu amigo". O pedido ali embutido era para que o ministério não assinasse convênios com prefeituras ligadas ao deputado baiano. Serra ponderou que não tinha como ajudar Jutahy. "O senhor é o presidente do Senado e ele está sem mandato", argumentou.

Mas, em vez de vetar o acesso dos prefeitos da base de Jutahy aos programas da Saúde, Serra o alertou: "Trate desta eleição como se estivesse tratando da sua vida". Abertas as urnas, ACM acusou o golpe com outro telefonema: "Quero te informar que seu amigo se elegeu". Serra ganhou ali um adversário de peso na Bahia.

Aloysio lembra que, antes mesmo da derrota de 2002, Serra já amargava uma campanha sofrida, mal organizada e sem estrutura, da qual saíra muito abatido. "Até o coordenador se mandou no meio da campanha", recorda bem humorado, referindo-se à saída de Pimenta da Veiga. "Mas, naquele momento, foi muito sofrido. Ele se levantou porque não é homem de ficar chorando pelos cantos".

Talvez por isto, correligionários e aliados já identificassem em 2004 um Serra bem diferente, e hoje enxerguem nele um "candidato humanizado" pelas derrotas. Afinal, depois de ser o presidenciável do partido que forçara Lula a disputar dois turnos para chegar ao Palácio do Planalto, ele teve que pedir voto aos próprios companheiros.

Sem mandato, só lhe restava a opção de presidir o partido. "Ele conheceu bem o outro lado. Com 33 milhões de votos, teve que lutar para ser presidente do PSDB", conta Virgílio, que lhe emprestou o gabinete da liderança do governo no Congresso para a campanha interna, sem adversário.

Do comando partidário, Serra ainda foi forçado a assumir a contragosto a candidatura para prefeito de São Paulo. "Você é o único capaz de vencer a Marta Suplicy" diziam todos os tucanos de São Paulo e do Brasil, referindo-se à prefeita petista, que disputava a reeleição. O apelo mais forte veio do ex-presidente Fernando Henrique.

Ele sabia que a Prefeitura complicaria seu projeto mais importante: a Presidência da República. Queria continuar presidente do partido e estava certo de que era o caminho para chegar como candidato mais forte ao Planalto em 2006. Mas não teve como resistir à pressão de dirigentes nacionais e paulistas, por conta da convicção geral de que, se Marta fosse reeleita, a hegemonia do PT se tornaria irreversível.

Mas foi assim que também se tornou tributário de uma dívida de apoio para a pretensão de 2010. A parceria com o DEM nas eleições municipais de 2008 foi iniciativa de Serra, já mirando o Palácio do Planalto mais adiante. Foi ele quem, na condição de presidente nacional do PSDB, procurou o presidente do PFL para propor a dobradinha. Àquela altura, o PFL tinha um candidato – José Pinotti – que aparecia com cerca de 15% da preferência do eleitorado nos levantamentos do partido.

Bornhausen sugeriu Kassab para vice e o tucano resistiu. Argumentou que Kassab fora secretário do Planejamento na gestão de Celso Pitta, uma ligação com potencial de desastre eleitoral. Queria Lars Grael, o velejador campeão mundial que tivera uma perna mutilada em um acidente e fora secretário nacional de Esportes no governo FHC. Mas Grael era cristão novo e Bornhausen bateu o pé. Praticamente impôs Kassab.

Habilidoso, Kassab nunca agiu como o nome imposto nem se ressentiu do veto. Dizia que a postura de Serra sempre foi muito transparente e que suas ponderações eram de caráter político eleitoral, e não pessoais. E se apresentou ao parceiro de forma objetiva: "Serei uma pessoa leal à chapa. Pode contar comigo".

Na construção da disputa municipal de 2008, Serra teve de administrar duas candidaturas do mesmo campo político, uma delas de seu próprio PSDB. Kassab sabia que era o preferido por para continuar o trabalho em parceria com tucanos do primeiro time.

Três ex-ministros de Fernando Henrique – Aloysio, Andrea Matarazzo e Clóvis Carvalho – participaram da Prefeitura. Ao final, no entanto, acabou tendo que engolir o apoio público de Serra a Alckmin.

Goldman ainda articulou e coordenou uma reunião com Serra e Aloysio no Palácio dos Bandeirantes, em que propuseram a Alckmin desistir da Prefeitura em troca do apoio garantido do trio para a volta ao governo, dois anos mais tarde. "Governador eu já fui. Quero muito ser prefeito."

A construção da unidade interna só foi possível depois de Kassab se reeleger prefeito. Derrotado, Alckmin sabia que o único caminho para voltar ao governo de São Paulo seria dentro do próprio governo. Mas, no tucanato, ninguém acreditava que Serra o convidasse e, tampouco, que o outro aceitasse.

Não foi tão difícil. Se o acerto era o passaporte de Alckmin para uma nova candidatura, também era fundamental ao projeto Serra criar um ambiente de unidade interna a partir de São Paulo. Serra investiu na operação certo de que ela teria serventia dupla, além do fato de trazer votos. Mais do que resolver a sucessão paulista, a ofensiva serviria ao projeto mais arrojado de mudança de imagem no plano nacional.

Como Aécio construía a candidatura presidencial vendendo o modelo de político agregador, capaz de aglutinar mais apoios fora do PSDB do que Serra, chegara o momento de o paulista desfazer este entendimento. E nada melhor, para se livrar da pecha de desagregador, do que uma demonstração nacional de que ele seria poderia, sim, encarnar o figurino de político competente também para agregar apoios e unir o partido.

O presidente nacional do partido, Sérgio Guerra, e o presidente da regional paulista, José Henrique Lobo, foram encarregados de fazer a sondagem para poupar o governador de uma eventual recusa. Além deles, apenas Serra, Goldman e Aloysio sabiam do encontro e não deixaram vazar o convite para não subtrair impacto do fato político.

Na tarde de 23 de dezembro, antevéspera do Natal, Alckmin foi tomar um café com Serra a pretexto de lhe desejar boas festas, e deu o OK. O convite aceito foi o fator de aglutinação que faltava para dar seguimento à estratégia de chegar ao Planalto.

Mas nem por isto a pendenga com Aécio estava resolvida. Embora Serra ocupasse o primeiro lugar da fila de presidenciáveis tucanos, o ex-governador de Minas também estava convencido de que sua melhor hora para entrar na corrida sucessória era aquela. Depois de oito anos de administração bem sucedida no governo de Minas, ele avaliava que este seria o melhor momento para apresentar sua candidatura.

Foi aí que Sérgio Guerra teve seu papel mais relevante na construção da candidatura tucana. Foi ele quem administrou a dupla de presidenciáveis e convenceu Serra a acatar a ideia das prévias que Aécio exigia. O governador paulista chegou a se irritar com a pressão de Aécio, que se sentia liberado para correr o País em busca de apoios, depois de sete anos de administração bem sucedida em Minas.

Serra, ao contrário, avaliava que não podia se afastar um milímetro do governo estadual para tratar de eleição, sob pena de perder o voto dos paulistas – que já haviam amargado sua saída da Prefeitura de São Paulo no meio do mandato. Com muita habilidade e alguma paciência, impediu um atrito entre os dois assegurando ao paulista que as prévias acabariam não acontecendo. E assim foi.