sábado, 26 de junho de 2010

Com biografia polêmica, indicação de Alvaro Dias enfurece o DEM



Potencial vice de José Serra na corrida presidencial, o senador paranaense Alvaro Dias já teve episódios de conflito com o seu partido, o PSDB. Ele foi expulso da legenda em agosto de 2001, após ter assinado o pedido de instalação na CPI da Corrupção, que apuraria irregularidades na gestão Fernando Henrique Cardoso. Filiado ao PDT no segundo mandato do governo FHC, chegou a apoiar o então rival à gestão tucana, Luiz Inácio Lula da Silva, no pleito de outubro de 2002.

De volta ao PSDB, Dias se tornou uma das vozes de oposição mais ferrenhas ao governo petista. Em 2008 teve a imagem arranhada por ter um funcionário de seu gabinete envolvido na divulgação de informações de um suposto dossiê elaborado pela Casa Civil e com dados sigilosos e pessoais de FHC e da ex-primeira-dama Ruth Cardoso.

Na ocasião, o parlamentar admitiu ter recebido as informações confidenciais, mas alegou a prerrogativa constitucional para manter o sigilo de quem as havia repassado a ele. Judicialmente, Alvaro Dias tem contra si um processo por quebra de sigilo funcional no Supremo Tribunal Federal (STF) e acusações de difamação contra o ex-governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB).

Conforme a ONG Transparência Brasil, o eventual vice de José Serra deixou de declarar R$ 6 milhões à Justiça Federal relativos à venda de uma fazenda. A omissão não constitui crime, pois é obrigatória apenas a declaração de bens ao Poder Judiciário. Na época, disse que apenas não quis se expor com a venda da propriedade em Maringá.

No auge do escândalo do nepotismo, que motivou o Supremo a editar uma súmula proibindo a contratação de parentes, teve exonerada uma sobrinha que trabalhava no Senado. No episódio, o senador disse que assim que foi dada a ordem da Suprema Corte pediu que Valéria Dias deixasse duas funções.

DEM já fala em cancelar coligação com PSDB

Lideranças do DEM no Congresso afirmam que a indicação do senador Alvaro Dias para assumir a vice na chapa de José Serra pode, junto a problemas regionais, abalar o casamento entre as legendas. Fala-se, inclusive, em desmontar a coligação já homologada na convenção tucana em 12 de junho.

Tucanos dizem que o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, se precipitou ao fazer o anúncio no Twitter. O petebista disse que Alvaro Dias seria o vice, mas os tucanos passaram a, formalmente, apresentar o nome de Dias como um consenso na legenda.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), já conversou com o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), sobre o assunto. O parlamentar carioca tem reiterado que, após a saída do ex-governador mineiro Aécio Neves da disputa pelo cargo de vice, o DEM teria direito ao posto. Um integrante do partido afirmou que outro agravante para o desconforto entre PSDB e DEM está concentrado em três Estados: Sergipe, Pará e Santa Catarina.

Serra deve ir ao Rio de Janeiro para participar da convenção nacional do PPS neste sábado. Aliados tucanos afirmam que o candidato deve conversar com Rodrigo Maia.

Para o senador Alvaro Dias, o DEM fará as concessões necessárias em nome da aliança PSDB-DEM-PPS-PTB. "O importante é o projeto que Serra lidera. Tenho para mim que o DEM fará as concessões necessárias em nome desse projeto. O importante é estabelecer a unidade", defendeu Dias.

"Agressão completa"

Mas algumas lideranças do DEM parecem não estar dispostas a ceder tão fácil. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), por exemplo, criticou duramente a indicação de Alvaro Dias. “Isso é uma agressão completa ao Democratas”, afirmou o deputado goiano.

“Se isso é um fato consumado, o partido tem de se reunir e repensar sua posição... É simplesmente um desastre”, explicou Caiado ao Congresso em Foco. Ele ainda comentou que uma eventual indicação de Alvaro Dias para compor a chapa de Serra é um rearranjo interno dos tucanos, que procuram acomodar o senador após ele não ganhar a legenda para concorrer ao governo do Paraná.

“As lideranças da educação têm horror ao Alvaro”, destaca Caiado, explicando que quando governador, o tucano chegou a lançar “a cavalaria” contra professores.

Paraná

Na última quarta-feira (23), Guerra telefonou para Alvaro Dias e avisou que, caso seu irmão Osmar Dias (PDT-PR) aceitasse o acordo de concorrer ao Senado na chapa do ex-prefeito de Curitiba Beto Richa, as lideranças tucanas tentariam convencer o DEM a conceder a vaga de vice do presidenciável José Serra a ele. Osmar Dias é o nome indicado por sua atual legenda para disputar o governo do Paraná na chapa com PMDB e PT e deve apresentar ainda nesta sexta-feira sua decisão.

Fonte: Terra

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