Radicalização eleva risco eleitoral de Serra
A radicalização recente do discurso do candidato à Presidência da República José Serra (PSB) contra a candidata do PT, Dilma Rousseff, pode ser prejudicial à campanha tucana, na avaliação dos cientistas políticos Jairo Nicolau, da Uerj, e Alberto Carlos de Almeida, diretor do Instituto Análise. Ontem, em Goiânia, Serra sugeriu que o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) faria mais invasões no país utilizando recursos do governo se Dilma for eleita.
"O dirigente principal do MST, (João Pedro) Stédile, disse que todo o MST deve apoiar a Dilma porque no governo dela eles vão poder agitar mais e invadir mais. Ele não disse, entre parênteses, com o dinheiro público", afirmou Serra. "Pode pegar as Ongs deles, eles estão todos fazendo campanha eleitoral, o que é ilegal", disse o presidenciável.
No dia anterior, Serra defendeu o vice de sua chapa, o deputado federal Indio da Costa (DEM), ao dizer que o PT tem relação com o grupo guerilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). "A polarização ideológica é uma tecla de altíssimo risco", aponta Nicolau.
cientista político avalia, no entanto, não ser possível saber se é uma estratégia ou apenas algo pontual na campanha do tucano. "A polarização não ajuda nem um pouco o Serra. A agenda tem sido pragmática e ligada à capacidade de liderança dos políticos", disse. O eleitorado, avalia, é muito menos ideologizado atualmente, assim como as alianças partidárias, que caminham mais para a posição de centro-esquerda. De um lado, está o PSDB fechado com o DEM. Do outro, o PT aliado a partidos "herdeiros da Arena", como o PR e o PP, e ao PMDB, dono de tendências conservadoras.
Para Carlos Alberto Almeida, o candidato tucano erra em se opor ao governo federal. "Quanto mais ele criticar o governo, mais facilita a estratégia de campanha do PT de identificar a Dilma como a candidata do governo Lula", diz. Almeida compara esse posicionamento de Serra ao "erro" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando perdeu a eleição de 1994 para Fernando Henrique Cardoso, depois de criticar o Plano Real, implantado naquele ano. "O Plano Real da vez é o governo Lula", diz.
Na sua avaliação, Serra deveria ser mais propositivo. Nas últimas semanas, o candidato do PSDB tem questionado vários setores da gestão Lula. Atacou o projeto da usina hidrelétrica de Belo Monte, fez críticas à falta de informações sobre a participação privada no projeto do trem-bala entre Rio e São Paulo e à carência de investimento de infraestrutura para a realização da Copa do Mundo no país em 2014. "O Serra tem criticado muito o governo. Ele está se colocando no escanteio", observa o cientista político.
Ontem, o candidato do PSDB ainda afirmou que o PT mente na campanha eleitoral. "O PT espalhou que eu vou privatizar os Correios, a Caixa, o Banco do Brasil e proibir concurso no Brasil. É tudo o que eu defendo. Campanha não é debate, é mentira, é teatro, é processar vítima. Tudo como máquina de intimidação. Basta olhar o programa de direitos humanos do governo, o programa aprovado pelo PT e a versão apresentada à Justiça Eleitoral", disse o tucano.
Do Valor
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