segunda-feira, 12 de julho de 2010

Os machos que "podem mais"


Que os antipetistas do sexo masculino – que num passado recente desrespeitaram Luiza Erundina e Marta Suplicy quando estas governaram São Paulo (e certamente fariam o mesmo com Marina Silva se ela tivesse chances de se eleita) – se sintam de alma lavada com a infeliz charge do Nani publicada no blogue do não menos infeliz Josias de Souza, é compreensível: os únicos argumentos desses trogloditas nesta campanha eleitoral se baseiam em preconceitos, racismo e machismo.

Espantoso mesmo é constatar que ainda existam mulheres que aplaudem um desenho carregado de agressão machista sob o pretexto de insultar Dilma Rousseff, como mostram os comentários delas no espaço do blogueiro. O curioso é que simultaneamente a isso, há o atual bombardeio midiático de uma superprodução sensacionalista envolvendo o goleiro do Flamengo que mandou matar a mãe de um filho seu. Crime cometido por um time de homens usando requintes de crueldade hedionda e que a mídia dissecará até o osso.

O que tem a ver uma coisa com outra? Tem tudo a ver! O machismo impera em nossa sociedade. Mesmo que de forma velada. Impera em maior proporção entre candidatos e eleitores dos partidos conservadores. As leis brasileiras acalentam os assassinos de esposas, namoradas ou amantes como se fossem eles as vítimas das megeras do sexo feminino. É quase lei entre os homens, que as mulheres agredidas são culpadas até provarem o contrário. Isto é, se tiverem alguma chance de defesa antes de receberem o castigo pelas próprias mãos dos valentões. Sem falar da prostituição infantil, do comércio de adolescentes, dos estupros, pedofilia…

Charges como aquela que Nani fez “sem querer ofender ninguém” e o blogueiro publicou “inocentemente”, só fortalecem essa cultura da impunidade do macho e a defesa de sua honra canalha. Porque não se trata de uma personagem fictícia de Nelson Rodrigues. É preconceito sexista, travestido de piada, que chama de prostituta a quem provavelmente será a presidenta deste país. E essa mulher tem uma filha, que por sua vez tem um pai. Ironicamente, Dilma Rousseff foi presa e torturada por tentar recuperar um bem que para nós parece fútil às vezes: o direito de nos manifestarmos livremente, democraticamente. Até mesmo para debocharmos de qualquer um que nos der na telha. E mais ainda: estarmos sujeitos a criticas por isso.

Josias de Souza, dentro do seu habitual expediente de fofoqueiro da corte e peão de campanha de Serra, apelou para mais um ataque machista contra Dilma e por tabela contra as mulheres em geral. Recebeu, merecidamente, uma avalanche de críticas, não só dos eleitores petistas, mas de pessoas de todo o país que se sentiram ofendidas, independente do sexo e das preferências políticas. E por trás do “bom humor” do chargista, mesmo que inconsciente, reside o preconceito machista na forma de humilhação da figura feminina. Poderia ter criticado e debochado da presidenciável e de suas alianças de diversas formas, menos desta.

Este episódio mostra quais serão as diretrizes da campanha de Serra. Na falta de argumentos e propostas, por estagnarem nas pesquisas e pela sinuca de bico em que Lula os colocou – atacarão sua oponente com a truculência do macho viril que “pensa que pode mais” … Mas, pelo histórico de vida de Dilma, sabemos que isso não a atingirá e nem lhe arranhará a integridade. Aliás, foi por este motivo, também, que Lula apostou nela para sua sucessão. Já tentaram de tudo para denegrir sua imagem: a ficha falsa de “terrorista”, o “apagão” de 3 horas, o “caso” Lina Vieira, o “dossiê” contra Serra… e nada: não saem do lugar, os patetas.

Já Serra, tem uma longa e palpável lista de fraudes e malfeitorias em seu currículo e não será poupado nos argumentos da campanha do PT como o foi pela mídia ao longo dos últimos anos. Tem dois longos meses pela frente para engabelar a opinião pública até chegar aos debates, quando conta em derrubar Dilma (que estará 10 pontos percentuais à sua frente nas intenções de voto) usando alguns truques de retórica ardilosa que trará nas mangas. Apostará todas as suas fichas, como macho-macaco-velho, – ele e as emissoras que organizarão os debates – tentando desequilibrar sua oponente emocionalmente. (Certamente, neste exato momento, em algum lugar, uma equipe de machistas prepara-lhe os truques retóricos a serem usados.)

Quando inquirido, será, acima de tudo, repetidamente mentiroso como foi em toda a carreira. Mas o problema do mentiroso compulsivo, é que, com o passar do tempo, torna-se transparente. E Dilma saberá desmascará-lo ao vivo, em rede nacional. Então, finalmente, ao sair de cena, entenderá que o povo escolheu um projeto de governo que será conduzido por uma mulher. Como poderia ser conduzido igualmente por um homem.

Quanto ao chargista, este sim continuará em cena. E se dependesse de mim, jamais teria trabalho em qualquer redação de qualquer publicação. Que saudades, aliás, eu tenho do Glauco…

Enviado por Roni do blog O que será que me dá

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