segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Mercadante cola em Lula, mas quem abre alas no corpo a corpo é Netinho


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o grande puxador de votos, mas é o candidato ao Senado Netinho de Paula (PCdoB) quem abre alas para a campanha de rua de Aloizio Mercadante, candidato do PT ao governo de São Paulo.

A presença de Lula em mais quatro comícios no estado até 3 de outubro traduz o peso da aposta petista para que a mesma onda vermelha que alavancou Dilma Rousseff, venha também impulsionar Mercadante a um segundo turno. O lema da campanha — "O que Lula fez pelo Brasil Mercadante fará por São Paulo" — é autoexplicativo.

No dia a dia da campanha, acompanhada pelo Valor na última semana, o grande chamariz da campanha, no entanto, é Netinho de Paula. Os dois começaram suas andanças conjuntas pelo Estado mesmo antes de a aliança ser oficializada. Nas caminhadas, Netinho, com apenas dois anos na vereança paulista, faz as vezes de popstar, causando histeria e empurrões que não cessam nem durante os pronunciamentos.

Em São Vicente, na baixada santista, Netinho continuava a receber camisetas com pedidos de autógrafos mesmo durante o discurso de Mercadante, em palanque improvisado num carro de som. O petista toca a situação sem disputar espaço com o pagodeiro. Nos eventos fechados com sindicalistas é que Mercadante assume o protagonismo e Netinho fica a reboque.

A ex-prefeita e ex-ministra Marta Suplicy incorporou-se mais recentemente à campanha de Mercadante. Na semana passada, estiveram juntos em três eventos - em encontro com centrais sindicais, em uma viagem de trem na região metropolitana, e no comício em Guarulhos.

Em 2006, o partido se dividiu entre ele e Marta na disputa pela candidatura ao governo. Mercadante ganhou a parada, mas Marta fortaleceu-se, elegendo cinco deputados federais e dois estaduais. Assumiu a coordenação do segundo turno da campanha de Lula em São Paulo e tornou-se ministra. Em 2010, a campanha de Marta tem caminhos próprios, inclusive com a contratação do marqueteiro Duda Mendonça.

Apesar da distância entre Mercadante e Geraldo Alckmin (PSDB) ser ainda de 26 pontos (Datafolha), é a melhor situação de um candidato petista a essa altura da disputa no Estado. Em 1998 e 2002, Marta e José Genoíno tinham, respectivamente, 11% e 12%. O próprio Mercadante tinha 18%, segundo o Ibope.

O candidato tem-se engajado na missão de tentar apagar episódios controversos dos últimos anos e promover a união de aliados na reta final. Em 2007, na votação que absolveu o então presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), do processo de cassação de mandato, por suspeita de ter contas pessoais pagas por um lobista, Mercadante se absteve quando a orientação governista era pelo voto contrário.

Em 2009, defendeu a queda do então presidente do senado, José Sarney (PMDB-AP) quando o PT buscava salvá-lo. Chegou a anunciar sua saída da liderança do PT "em caráter irrevogável". Voltou atrás após uma conversa com Lula.

O discurso do candidato é recheado de promessas atraentes aos insatisfeitos com a administração atual: fim da progressão continuada nas escolas, laptops para todos os professores — progressivamente, para os alunos também —, diminuição dos valores cobrados nas 237 praças de pedágios, 30 km de metrô em quatro anos, ingresso massivo dos programas como o Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida no Estado.

"O coração de São Paulo tem de bater junto com o do Brasil" é o bordão de toda agenda, seja em almoço no Rotary ou no encontro com centrais sindicais na zona leste da capital. Na sua campanha, a avaliação é que chegar ao segundo turno é mais difícil que ganhar a eleição. "O tempo de TV será igual. Foi quando a propaganda começou que Mercadante mais cresceu", diz Emídio de Souza, coordenador da campanha.

Além disso, o PT conta que terá consigo o apoio de pelo menos dois outros candidatos, Celso Russomanno (PP) e Paulo Skaf (PSB). Antes de a corrida eleitoral começar, Mercadante chegou a conversar com ambos para comporem chapa. Skaf foi, inclusive, convidado a vice.

Reside aí um dos problemas de Mercadante na viabilização de um segundo turno: ao contrário das expectativas, nem Russomanno nem Skaf até agora emplacaram. Têm, respectivamente 7% e 3% nas pesquisas.

Outro fator de preocupação é com uma resposta efetiva às acusações da propaganda tucana de que Mercadante, quando senador, pouco teria feito por São Paulo, estando ausente na aprovação de empréstimos e repasses ao estado. Em eventos nos municípios comandados por petistas e aliados, a ordem é ressaltar a atuação de Mercadante, dando voz a prefeitos.

"Nunca fui convidado ao Palácio dos Bandeirantes para falar das necessidades de Guarulhos, mas ia quase todo mês a Brasília pedir ajuda do Mercadante", disse Sebastião Almeida (PT), prefeito guarulhense, durante o comício.

Mercadante também pretende questionar a atuação de Alckmin quando ambos foram deputados federais, em 1990: "Entramos juntos na Câmara. Qual foi a atuação dele? Todo mundo se lembra de mim na CPIs Collor e Anões do Orçamento. Alguém se lembra de algo que ele tenha feito?", questiona Mercadante.

Por Vandson Lima, no Valor Econômico

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