segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Bispos e tucanos apanhados em flagrante delito
A Polícia Federal revelou a conexão direta entre o núcleo da candidatura oposicionista e a campanha obscurantista patrocinada pelos bispos que sonham controlar a CNBB. Trata-se de ato de delinquência, tipificado como crime eleitoral. A PF, a mando da Justiça Eleitoral, apreendeu cerca de 1 milhão de panfletos contra a candidata Dilma Rousseff, numa gráfica que pertence à irmã do coordenador de infraestrutura da campanha de José Serra, Sérgio Kobayashi. Os panfletos, de responsabilidade da Regional Sul da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, vinham sendo distribuídos por militantes do PSDB.
Luciano Martins Costa - Observatório da Imprensa
Comentário para o programa radiofônico do Observatório da Imprensa, em 18/10/2010
Os jornais noticiam, na segunda-feira (18/10), que a Polícia Federal, a mando da Justiça Eleitoral, apreendeu cerca de 1 milhão de panfletos contra a candidata governista, Dilma Rousseff, numa gráfica que pertence à irmã do coordenador de infraestrutura da campanha de José Serra, Sérgio Kobayashi.
Os panfletos, de responsabilidade da Regional Sul da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, vinham sendo distribuídos por militantes do PSDB.
No domingo (17), dois ativistas da campanha de José Serra coordenavam a entrega do panfleto diante da capela da Pontifícia Universidade Católica, no bairro de Perdizes, em São Paulo, abordando os fiéis à saída da missa. Diziam que, se eleita, Dilma Rousseff vai estimular o aborto nas famílias de classe média para assegurar a maioria de pobres que, segundo afirmavam, são manipulados por políticas sociais. Citavam o caso do apartheid na África do Sul, enquanto uma militante reforçava o discurso dizendo em voz alta que Dilma Rousseff quer esterilizar as mulheres de classe média.
Fato real
A Polícia Federal revelou a conexão direta entre o núcleo da candidatura oposicionista e a campanha obscurantista patrocinada pelos bispos que sonham controlar a CNBB. Trata-se de ato de delinquência, tipificado como crime eleitoral.
Diante do flagrante delito, escorrem desmentidos de todos os tipos, e cabe à imprensa manter o assunto em evidência e investigar o caso.
A dona da gráfica, segundo a Folha de S.Paulo, é filiada ao PSDB desde 1991. Resta apurar quem pagava a impressão, se os bispos empenhados em cobrir a campanha eleitoral com seu discurso medieval ou se o dinheiro vinha do caixa da campanha de José Serra.
Mesmo que lhe interesse visceralmente virar a tendência do eleitorado e que tenha demonstrado, até aqui, uma bizarra flexibilidade quanto às boas práticas jornalísticas, é de se esperar que a imprensa tradicional ainda conheça alguns limites de decência.
O flagrante na gráfica que pertence a destacados militantes do PSDB é um fato real, não uma denúncia a ser investigada. Trata-se do evento mais escandaloso da atual campanha. Vamos ver quanto tempo permanece no noticiário.
Guerra de panfletos
Os leitores atentos devem ter observado que a capa da revista IstoÉ desta semana é uma referência à capa da revista Veja da semana anterior.
Na semana passada, Veja retratou a ex-ministra Dilma Rousseff em duas posições opostas, tentando representar uma suposta contradição da candidata diante da questão do aborto. Nesta semana, IstoÉ faz o mesmo com José Serra, mostrando-o também em duas imagens invertidas. Numa delas, com a frase segundo a qual o ex-governador nega conhecer o engenheiro Paulo Vieira de Souza, apelidado de Paulo Preto. Na outra, Serra reconhece o personagem e o elogia.
Paulo Vieira de Souza, obscuro avatar de obras públicas e campanhas eleitorais retirado das sombras pela IstoÉ, tornou-se desde a semana passada um dos eixos em torno dos quais a campanha eleitoral patina sem chegar aos temas que realmente importam para a escolha de um candidato à Presidência da República.
O outro tema, que envolve a intervenção do Estado em relação ao livre arbítrio das mulheres diante da questão do aborto, segue sendo alimentado por iniciativa do bispo de Guarulhos, com apoio oficial da coordenação de infraestrutura da campanha do PSDB, segundo apurou a Polícia Federal.
No que se refere à imprensa, convém esclarecer em que ponto da campanha os editores perderam as referências do bom jornalismo e aceitaram se transformar em meros coadjuvantes dos marqueteiros de candidatos.
Que os jornais chamados de circulação nacional estão há meses empenhados em fornecer munição para uma das candidaturas, não pode restar dúvida. O que está ainda por ser provado é até que ponto irão arriscar suas reputações para fazer valer suas preferências políticas.
O empenho da chamada grande imprensa em tentar impor um candidato à opinião pública ainda está por receber uma análise apropriada dos pesquisadores em comunicação, em torno de uma questão central: o que tanto temem os donos das empresas de mídia dominantes, em caso de vitória da ex-ministra Dilma Rousseff?
Os estudiosos estão dispensados de perscrutar as razões da revista Veja, que há muito deixou de produzir jornalismo para se transformar em panfleto.
Do Carta Maior
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