sábado, 31 de julho de 2010

O "limite da irresponsabilidade" do Datafolha


Aquela frase que ficou famosa nas gravações telefônicas entre o então diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio, e o ministro Mendonça de Barros, quando da privatização das teles, no Governo FHC, parece ser a mais apropriada pela descrever o que está se passando com as pesquisas eleitorais do Datafolha.

O resultado da pesquisa IBOPE divulgado hoje mostra que o braço estatístico do Grupo Folha perdeu, até mesmo, a solidariedade de seu mais importante congênere e, principalmente, do maior contratador de pesquisas do país, o grupo Globo.

Afinal, houvesse confiança total nos resultados da pesquisa que contratou ao Datafolha – em parceria com a Folha de S. Paulo – porque a ainda rainha das telecomunicações empregaria, na mesma semana, outras centenas de milhares de reais contratando outra pesquisa de intenção de voto?

Fica cada vez mais claro – até pela mudança de “método” estatístico que adotou em sua última pesquisa, usando uma distribuição de amostra que não é utilizada por nenhum instituto, nem o próprio Datafolha, até este levantamento – que seu resultados são construídos “sob medida” para dar fôlego à candidatura José Serra, ao menos até o início da campanha eleitoral pela televisão.

Não há maneira, dentro de um procedimento estatístico correto, de haver tamanha diferença. Não se argumente que a margem de erro de 2% que permitiria que a vantagem de cinco pontos de Dilma no Ibope (39 a 34%) se reduzisse a 1% porque isso, além de ser, nas palavras da própria responsável pelo Datafolha, Sra. Renata Nunes, um “raríssima hipótese”, poderia justificar o raciocínio inverso, de que a diferença para 41 a 32%, nove pontos de diferença.

Nem mesmo na mais generosa aplicação da tal “raríssima hipótese” os intervalos admitidos na pesquisa Datafolha são compatíveis com os do Ibope, menos ainda com os do Vox Populi. A menos que queira se acusar, como se fez a este último, de manipulação dos dados para favorecer a candidata de Lula, mesmo depois que o próprio presidente do Ibope, publicamente, viesse se declarando há um ano convencido de que Serra venceria e que Dilma teria um teto, progressivamente “reformado”, de 15, 20, depois 30%.

A pesquisa Datafolha foi produzida para gerar um resultado desejado. Quem quiser olhar os dados detalhados do Datafolha facilmente perceberá o que se fez. A tal “ponderação das bases” é escandalosa.

No Sudeste, há uma correspondência entre a base de entrevistas real e a ponderada (4672 entrevistas realizadas, ponderadas para 4756). No Sul, região mais favorável a Serra, a proporção é uma (2556 entrevistas realizadas ponderadas para 1634); no Centro-Oeste é outra (1060 entrevistas realizadas, reproporcionadas para 1572).

No Nordeste, basta a aritmética. Pernambuco e Bahia, onde houve pesquisas estaduais, entram com 2174 das 2617 entrevistas realizadas. Os dois estados têm segundo o IBGE, 12,2% da população brasileira. Todos os demais estados nordestinos, que somam 15,4% da população nacional, foram mensurados por apenas 443 entrevistas, portanto. Ou uma amostra de 67.720 pessoas por entrevista.

O Distrito Federal, com 1,3% da população, teve 706 entrevistas. Os demais estados do Centro-Oeste e do Norte , com 14,4% da população brasileira, portanto, ficaram com 354 entrevistas. Uma entrevista para cada 75.140 pessoas.

No Sul, das 2556 entrevistas, 2440 foram feitas no Rio Grande do Sul e no Paraná . Ficaram 116 para Santa Catarina, portanto. Uma entrevista para cada 52.741 pessoas.

Claro que não se pode tomar mecanicamente bases amostrais diferentes e que, em pesquisa alguma haverá exatamente a mesma proporção se tomados segmentos isolados. Mas a simples observação das distorções representativas exibidas por este método “sanfona” – bases amostrais que esticam e encolhem de forma exuberante – não podem conduzir a resultados corretos.

Mas podem conduzir a resultados desejados, certamente.

Do Tijolaço

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