O Brasil teve uma expansão significativa dos direitos sociais da grande maioria da sua população nos últimos anos, extensão do sistema educacional, porém persistem entre 10 e 13 milhões de analfabetos – sobretudo de terceira idade – e grande quantidade de analfabetos funcionais – que aprenderam a ler mas que, sem prática posterior, são incapazes de ler e responder uma carta.
E, ao mesmo tempo, dispomos do melhor método de alfabetização – o método Paulo Freire - que, ao mesmo tempo que permite o aprendizado da leitura e da escrita, favorece a consciência social das pessoas.
Até mesmo países de nível de renda muito mais baixo do que o nosso, como a Bolívia, valendo-se de um método muito eficaz, mas menos elaborado, como o método cubano, terminaram com o analfabetismo, segundo constatação da Unesco. A Bolívia, que tem uma grande complexidade cultural e lingüística, porque a massa da população fala aymara, quéchua, guarani, castelhano e outros muitos dialetos.
Não podemos permitir que milhões de brasileiros não saibam ler e, não apenas, estejam impedidos de orientar-se minimamente como um cidadão deve fazê-lo para informações básicas, mas também impedidos de conhecer a cultura brasileira – aquilo que o Brasil produz de melhor. Impedidos de conhecer Jorge Amado, Graciliano Ramos, Machado de Assis, Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Morais, Guimarães Rosa – apenas para citar alguns. Todos têm todo o direito de não gostar de autores, mas devem ter todo o direito de conhecer, de ter acesso ao que de melhor o Brasil produz.
Um mutirão, organizado pelo Ministério da Educação, de que participem ativamente as entidades estudantis, as centrais sindicais, os movimentos sociais e culturais, que comece pela elaboração de método adequado aos da terceira idade e que mobilize centenas de milhares de jovens e militantes de todos os setores da população, poderá elevar o Brasil nos próximos quatro a anos a “país livre do analfabetismo”. Seremos um pouco mais democráticos, menos injustos, mais cultos. Além de preparar-nos melhor para produzir uma cultura muito mais plural, diversificada, reflexo da sociedade brasileira realmente existente e não produto do país que as elites gostariam que o Brasil continuasse sendo. Um Brasil para todos significa um Brasil sem analfabetismo.
Por Emir Sader no Carta Maior
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